Carla M. Soares
Estreou-se no mundo dos livros com “Alma Rebelde”, e no mundo dos e-books com “A chama ao vento”, livro que gostaríamos de ver em papel por ter sido das melhores obras que lemos nos últimos tempos. Ambientado em Portugal (vejam a nossa opinião aqui), maioritariamente em Lisboa, Carla M. Soares traz-nos uma trama empolgante e um livro viciante.
Mas quem é esta autora? Vamos tentar saber?
Carla M. Soares: Antes de mais, apresento um protesto formal contra os “favoritos”! Fico logo em branco! Vamos lá tentar.
Filme favorito: Adoro cinema mas não tenho favoritos. Vou ao contrário – detesto a maioria das comédias“americanadas” e / ou de adolescentes. Abomino actores como Will Ferrel, por exemplo, e não consigo ver Jim Carey a fazer caretas.
Livro favorito: Ai estas perguntas! Tiro tanto prazer de livros tão diferentes, em momentos diferentes, que não consigo apontar um favorito. Até tenho muitos guilty pleasures! Mas vamos lá a alguns dos que me deram mais prazer: de língua inglesa, East of Eden (Steinbeck), Heart of Darkness (Conrad), Wuthering Heights (Bronte), Hamlet (Shakespeare), Brave New World (Huxley), Lord of the Rings (Tolkien), The Earthsea Trilogy (LeGuin), todo o Sherlock Holmes, Manhattan Transfer (John dos Passos)…chega? Faltam muitos e falta-me a memória… Outros: Gabriel Garcia Marquez, Carlos Ruiz Zafon, Jules Verne. Em português, Eça de Queiroz, Jorge Amado, algum Saramago, algum Lobo Antunes, algum de Rosa de Lobato Faria, estou a descobrir e adorar Afonso Cruz, adorei A Mulher-Casa, de Tânia Ganho… E, com excepção de Whitman, nem falo de poesia!
Anime favorito: Ghost in the Machine ou Final Fantasy são anime? Se não, não tenho – na verdade, não conheço.
Manga favorito: Não tenho, conheço mal. O meu filho de 12 anos lê Attack on Titan. Nem isso sei se é manga, embora julgue que sim. Confesso a minha ignorância. Se me perguntarem da BD em geral, refiro sem dúvida os Xmen (não falo dos filmes, mas dos comics), que li pela primeira vez em miúda, nas BDs velhas da minha mãe.
Evento/entretenimento/espectáculo favorito: Não, lamento. Detesto circo. Gosto de Teatro.
Série favorita: Neste momento, será provavelmente Game of Thrones. Também vejo The Bridge com um fascínio macabro…
Sabemos que os teus dois livros são bastante diferentes. Quais as principais diferenças?
São tão diferentes que acho que só têm em comum duas coisas: a mesma escritora, e portanto a mesma “voz”, e um pouquinho de História. De resto, é tudo diferente, começando pela estrutura, que no Alma Rebelde é mais linear, embora com a introdução de elementos diarísticos e epistolares, enquanto o Chama está dividido em duas partes, ambas com bastantes oscilações no tempo. A personagem principal também é muito diferente, no Alma é uma rapariga nova, contrariada, um pouco lamentosa, no segundo um homem perto dos 40, insatisfeito e solitário... e depois tenho mais personagens importantes, sobretudo na segunda parte. O tom é diferente, o primeiro é muito mais romântico, sem dúvida. Até a época é diferente, o Alma passa-se a meio do século XIX, o Chama em três momentos do século XX, o actual, o princípio dos anos 40 e, um pouco, o ano de 1973...
Como surgiu a ideia de escrever “A Chama ao Vento”?
A partir da canção A Candle in the Wind, do Elton John. Dei por mim a pensar em que outro tipo de mulher para além de Marilyn esta canção podia homenagear e a considerar que tipo de acontecimentos poderiam levar a chama a apagar-se dentro de uma pessoa. E depois comecei por outro lado, muitos anos mais tarde, com outra personagem e com as consequências da extinção da chama...
Este teu último livro, editado apenas em e-book, “A Chama ao vento” é absolutamente viciante. Como conseguiste fazer com que o leitor se mantenha preso à trama tanto tempo?
Ser ou não viciante é um julgamento do leitor, embora todos os autores o desejem e, creio, se esforcem para tornar os seus livros viciantes. Gostaria muito de pensar que sim, que este livro é de facto interessante. Neste caso, os leitores talvez apreciem as personagens e os avanços e recuos no tempo que vão dando vislumbres sobre elas. E claro, a partir de certa altura entramos numa época fascinante, a da Segunda Grande Guerra em Lisboa (espero não ter destruído nas páginas o faascínio da época), há coisas para descobrir, um romance, um pouquinho de mistério, vários acontecimentos... devidamente narrados e comentados por essa personagem maravilhosa que liga presente e passado, João Lopes. Ele é um favorito meu.
Há autores que dizem que é impossível escrever-se sem usar algo que seja autobiográfico, mesmo que não seja propositado. Aconteceu em algum dos teus livros?
Não creio que isso seja verdade para todos os autores, a não ser, talvez, no que diz respeito a uma certa visão do mundo. Não tenho elementos autobiográficos particulares nos livros escritos até aqui. Um pouco da minha personalidade, sim, uma certa valorização da mulher, da independência ou desejo de independência da mulher, a importância das relações humanas, da família (para o bem e para o mal), algum interesse pela História, uma forma de escrever que nunca é inteiramente crua, o que pode, no contexto actual, ser um defeito, não sei. Estou, porém, agora a começar um novo livro um pouco diferente, com uma vertente autobiográfica em elementos que pertencem ao espólio de memórias de Angola da família...
Podes levantar o véu sobre os teus próximos projectos?
Estou sempre a escrever. Tenho um outro romance de época pronto, à espera de revisão e de decisões. Passa-se em 1893, no pós-Ultimato, e, sendo mais leve do que o Chama e um nadinha romântico, envolve republicanos e anarquistas... Chama-se, para já, O Cavalheiro Inglês. Estou também, como disse, a escrever um que me cai mais perto, por se localizar parcialmente em Moçâmedes (agora Cidade do Namibe), onde nasci. Passa-se parcialmente durante a guerra colonial, embora também na actualidade, e envolve recordações e histórias que ouvi muitas vezes na minha família.
Como surgiu a ideia do teu blogue “Monster Blues”?
O blogue já surgiu há uns dois, apenas como experiência. Só ganhou mais ou menos o objectivo que agora tem meses depois, em Agosto de 2012, quando publiquei a minha primeira opinião. Portanto, considero que faz dois anos a 28 de Agosto. Recentemente, mudei-lhe o rosto, ficou com uma aparência mais clean e passei a publicar mais textos de autora, sobretudo poemas mas também excertos de livros e o que mais me apetece. Continua a ter algumas opiniões sobre livros e filmes, claro.
Como têm sido as criticas aos teus livros?
Um autor tem que estar preparado para não agradar a toda a gente. Mesmo os melhores autores e os autores consagrados têm leitores que não apreciam o seu estilo, as suas histórias, o tom… Há um público para o nosso estilo, temas, etc. Ainda assim, as opiniões têm sido positivas. Este último livro, sendo recente e um e book (não há como escapar ao facto de que, mesmo que seja um bom livro, chegará sempre a menos gente por esse motivo) tem ainda poucas opiniões, mas têm sido muito boas. O Alma, que saiu em papel e tem mais tempo, já teve uma recepção mais variada, com leitores que gostam mais e outros que gostam menos, é um tipo de livro muito específico. Mesmo esse tem recebido muito mais opiniões positivas do que negativas. Estou bastante satisfeita. Agora só gostaria que aumentassem os leitores do Chama, que apesar de tudo, no ranking dos e-books mais vendidos na wook, está em segundo lugar! E com os leitores, claro, as opiniões.
O meu agradecimento ao Flames, não só pela maravilhosa opinião acerca do A Chama ao Vento, mas por toda a simpatia e pela entrevista. Muito boa sorte!
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