Rui Massena
(Foto por Rita Carmo)
É o Maestro português mais conhecido e mais querido do público português, e acaba de lançar o seu segundo disco, Ensemble. É já no próximo fim de semana que apresentará o seu novo trabalho. Duas datas a reter: 30 de Abril - Centro Cultural de Belém (bilhetes aqui) e 2 de Maio - Casa da Música (bilhetes aqui). Não faltem. No "entretanto" aqui fica a conversa que tive com o Maestro onde partilhei algumas das coisas que me foram surgindo à medida que ouvia o disco.
Entrevista anterior ao FLAMES aqui - http://flamesmr.blogspot.pt/2015/02/93-entrevista-do-flames-rui-massena.html
Contrariamente ao disco “Solo” em que o piano era o instrumento principal acompanhado pelo violino apenas numa música, aqui o piano continua a ser o personagem principal mas está mais acompanhado. Esta escolha foi propositada ou surgiu naturalmente?
É exactamente isso! A ideia do "Solo" era o de criar um disco intimista. Aqui acrescenta-se o que, em música, se chama de contraponto. No fundo introduzi aqui outras vozes e criei um diálogo entre várias vozes que se abraçam. Neste trabalho senti esta necessidade de juntar essas vozes à tranquilidade, em envolvência, numa luz diferente. Isto tem muito a ver com Sintra. Sintra durante o dia é iluminada de maneiras diferentes, e viver lá fez-me reparar nisso. Foi esta luz, este brilho que quis trazer para este álbum com uma nova envolvência graças à orquestra de cordas. Eu tive, com este álbum, a preocupação de fazer com que as pessoas não quisessem mudar de faixa. Queria que este album fosse uma boa companhia para quem o está a ouvir.
Ontem foi dia 25 de Abril e no álbum há uma música chamada Liberdade. Em 2016 ainda precisamos de relembrar às pessoas, através da arte e da música, a importância da Liberdade?
Essa é uma pergunta bem gira, porque a verdade é que eu acho que sim. A Liberdade (individual e colectiva) é um exercício contínuo que temos de exercer. É fundamental que o façamos. A música Liberdade expressa bem isso... o início é difícil e muito tranquilo até que de repente é como se a música se soltasse. E a liberdade é isso, um exercício que por vezes é difícil de se conseguir.
Uma coisa que reparei que liga os dois álbuns é a sensação de calma e paz que ambos transmitem. Foi algo propositado?
Sim, exactamente. Ainda sinto que o mundo anda muito caótico e por isso quando componho gosto de paz. E gosto de transmitir essa paz. Acho que é precisa. Pelo menos, até agora e nestes dois trabalhos, senti essa necessidade. Não quer dizer que num próximo trabalho não faça algo de totalmente diferente.
(Foto por Rita Carmo) |
Fiquei bastante intrigada com a música “Lembro-me”… dura
apenas 37 segundos e aparece inesperadamente. Porque tomou esta opção?
(Risos) Porque essa música é uma lembrança. No meio de tantas coisas de repente surge essa memória fugaz. Uma pequena lembrança, como às vezes temos ao longo do dia.
De todo o álbum a minha música favorita é a Liberdade,
porque quando a estava a ouvir soltou totalmente a minha imaginação. Quando
compõe as suas músicas, acontece-lhe por vezes perder-se em divagações... em
imagens de lugares ou cenas? Isso aconteceu-me a ouvir o disco e tenho alguma
curiosidade em saber se lhe acontece a si também.
Isso é muito bom! Para mim é um pouco diferente porque eu não vejo imagens ou cenas. Eu centro-me nas sensações. Tenho mais sensações do que propriamente imagens ao vivo. Isso tem a ver com o facto de eu viver o mundo desta forma, através de sensações. Como na música liberdade, eu estava a ter aquela sensação inicial do "vai vai vai e depois.... a libertação". É assim que vivo a música, através de sensações que são mesmo corporais.
Actualmente é o rosto mais conhecido da música clássica em Portugal. Sente, de algum modo, uma responsabilidade acrescida por levar esse género musical até ao público português?
Não. Eu gosto simplesmente de partilhar aquilo que gosto com os outros, e faço-o apaixonadamente. Gosto de comunicar com os outros e de lhes dizer o que gosto, não tem a ver com um sentimento de missão nem nada disso. Apenas gosto de partilhar e tem sido muito bom poder fazê-lo.
A maior parte dos artistas do mundo da música utiliza as letras nas suas canções para transmitir as suas mensagens a quem os ouve. No seu caso, não recorre às palavras. Acha que a sua mensagem chega de uma forma igualmente clara até quem o ouve?
Talvez não igualmente. Mas isso tem a ver com o meu estilo musical, porque as imagens que cada um tem e que são proporcionadas pela música têm a ver com a individualidade de cada um. Eu abro um pouco o universo que acho que estou a retratar e cada qual depois interpreta à sua maneira. Penso que é precisamente essa a beleza da música instrumental: é uma coisa sem palavras! Que se gosta e se sente! E depois cada qual tem a liberdade para ver e sentir o que quer.
Para este álbum contou com a participação da Orquestra
Sinfónica Nacional Checa com a qual já tinha trabalhado anteriormente. Sentiu
que agora houve alguma diferença uma vez que agora foi o compositor deste
trabalho?
Sim, muito diferente! Porque estas eram as minhas "palavras" e quando somos nós a escrever não temos de nos explicar tanto. Gostei muito de dirigir a minha própria música. Quando estou a dirigir um Mozart, eu não posso mexer em nada, não posso reescrever o seu trabalho.. mas aqui sou eu! É a minha música! Foi muito bom poder fazer isto e foi uma experiência diferente.
Os prémios que tem ganho e o reconhecimento que
tem tido tem sido incrível. Trabalhou na televisão, na área da cultura,
colaborou juntamente com outros artistas, alguns com estilos totalmente
diferentes como os Da Weasel… Enfim o seu percurso é mesmo notável e
distingue-se claramente de muitos Maestros… O que é que ainda não fez e
gostaria de conquistar no futuro?
Acho que ainda há muita coisa. Eu vou descobrindo a vida e tento estar feliz comigo mesmo e com o meu percurso. Tenho dar voz ao que sinto, e depois tento estar disponível para aceitar o que a vida me traz. Consigo isso gostando do meu próprio mundo e da minha música, mas tendo sempre em atenção os outros. Ter gente que goste da minha música é muito bom, e este disco só aconteceu porque o "Solo" teve uma excelente aceitação por parte do público. Saber que as pessoas vão ouvir a minha música e gostar dela é aquilo que faz valer a pena.
Obrigada ao Maestro Rui Massena por, mais uma vez, se disponibilizar a conversar connosco.
Se quiserem ver a entrevista que lhe fizemos aquando da saída de "Solo" cliquem aqui - http://flamesmr.blogspot.pt/2015/02/93-entrevista-do-flames-rui-massena.html
Não se esqueçam das datas dos concertos: 30 de Abril - Centro Cultural de Belém (bilhetes aqui) e 2 de Maio - Casa da Música (bilhetes aqui).
Foi das melhores coisas que podia ter feito quando acordei, vi a entrevista, acedi ao Spotify, escutei a "Liberdade" e o meu cérebro agradeceu. Que maneira mais bonita de começar o dia. Agora é a minha vez de agradecer ao FLAMES e ao Rui Massena por este momento. ;-)
ResponderEliminarQue bom. Fico tão feliz por saber isso Alípio. E tenho a certeza que o Rui Massena também ficará :)
EliminarBeijinho
Roberta