segunda-feira, 27 de novembro de 2017

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Livro: O Jogador (Fiódor Dostoievski)



Título: O jogador
Autor: Fiódor Dostoiévski
Título original: Igrok
Páginas: 215
Edição: Visão, Ler faz bem (Cardume Editores Lda)


Sinopse


O Jogador foi publicado em 1866, ano em que saiu também Crime e Castigo. Passado na Alemanha, num ambiente de casinos, Aleksei Ivánovitch destaca-se como figura principal - um jovem com um forte sentido crítico em relação ao mundo que o rodeia, mas carente de objectivos, que descobre em si a paixão compulsiva pelo jogo. Dostoiévski expõe as personagens nas suas motivações mais íntimas, com humor e ironia, criando uma obra simultaneamente viva e profunda, na melhor tradição dostoievskiana. O fascínio torturado dos jogadores adequa-se genialmente ao tratamento de temas caros ao autor, e ainda o descontrolo e o desespero, as paixões que raiam a loucura e a solidão sem perspectivas, além de uma análise social impiedosa, por vezes satírica. O Jogador, uma das obras mais lidas deste autor, tem muito da experiência do próprio Fiódor Dostoiévski, que também foi um jogador compulsivo durante vários anos.

Opinião
(Roberta Frontini)

Adoro autores russos. Não, não posso nem quero generalizar. Adoro Dostoievski. A sua escrita que nos torna dependentes da sua leitura, a sua simplicidade ao lado dos seus enredos intrincados, o seu humor aguçado e inteligente... Por isso mesmo, volta e meia, meto-me a ler algo dele. E sempre que termino penso: Porque é que perco tanto tempo a ler outros autores quando tenho aqui isto?

O jogador foi, talvez, dos melhores livros que já li na minha vida e mesmo assim acho que esta não é, nem de longe, uma das suas melhores obras. O sentido de humor usado fez-me rir à gargalhada. A caracterização das personagens está soberba... as descrições não estão exageradas mas são tão claras que nos permitem "entrar" naquela sociedade e num mundo tão diferente de forma fácil.  Nota-se um claro conhecimento, por parte do autor, das consequências do jogo patológico e das vivências do mesmo, que consegue empregnar nas suas personagens, enquanto, ao mesmo tempo, destaca a falta de objectivos, moral e a falta de valores da sociedade. 

Uma das coisas de que mais gostei, como disse em cima, foi da caracterização de algumas personagens e da evolução de outras. A personagem principal (que narra a história), por exemplo, para além da questão do jogo patológico apresenta, ainda, uma clara personalidade dependente que extravasa a questão do jogo em si. De facto várias vezes refere à sua amada que, se ela quiser, que ele se atira de um penhasco, se mata, faz o que ela quiser. Essa dependência e quase total anulação do que ele é para com a amada, mais do que uma prova de amor revela, um pouco, esta questão da dependência. A forma como, psicologicamente, o narrador nos vai descrevendo as probabilidades para determinado resultado é fascinante, e as crenças em torno delas são muito interessantes. Para os "jogadores" as leis da probabilidade têm regras que só eles conhecem e que, apesar de ineficazes, por vezes os fazem sentir invencíveis. 

A avó é outra das personagens que tem um destaque importante e uma evolução interessante. Para além de ser a personagem mais cómica e irónica, ela começa com uma grande preocupação para com as pessoas viciadas no jogo, mas depois ela própria entra no esquema e, através dela, compreendemos melhor todo o processo de adição. Porque o narrador já era dependente... a avó vai-se tornando, e ver essa evolução [regressão?] é fascinante. Aliás, em todo o livro isto é muito patente e facilmente se compreende que apenas alguém com um profundo conhecimento da dependência ao jogo (como o autor o foi) poderia escrever uma obra destas. 

Sim, Dostoievski foi um jogador. A vários níveis. A criação desta obra foi, ela mesma, uma aposta. O autor estava a escrever Crime e Castigo e, nos "entretantos", fez um pacto com o editor: até uma determinada data, se ele não entregasse um livro com X páginas o editor podia, durante 9 anos, publicar tudo o que ele escrevesse sem lhe pagar nada. Esta obra surge então desta urgência em terminar um prazo e foi escrita com a ajuda de uma dactilografa (para escrever mais rápido) que depois acabaria por se tornar sua mulher. 

Não é a obra prima do autor, mas é uma obra prima para mim. Isto porque, o que tendemos a fazer é comprar com outras obras. Se compararmos este livro com os seus outros livros, este de certo que não se destacará. Mas basta pararmos para o comparar com outras obras de outros autores para percebermos que estamos perante um livro absolutamente delicioso. 

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1 comentário:

  1. Bem... por acaso nunca tinha sentido grande curiosidade em ler este livro mas depois desta opinião vai direitinho para a minha wishlist!
    Mariana

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