Ano: 2016
Género: Policial, Drama
Autor: Nuno Nepomuceno
Editora: Topbooks
* Por Mariana Oliveira *
O nome Nuno Nepomuceno entrou há poucos anos no panorama literário português mas é incrível o quanto cresceu desde aí. Explorando um tema que muito poucos escritores portugueses abordam, a espionagem, o Nuno encontrou "o seu território" e tornou-se no nome nacional de mais sucesso dentro desse género. Por isto mesmo, depois de ter gostado tanto da sua Trilogia "Freelancer", foi com imensa curiosidade que parti para a leitura da sua mais recente obra - "A Célula Adormecida".
Sinopse:
"Em plena noite eleitoral, o novo primeiro-ministro português é encontrado morto. Ao mesmo tempo, em Istambul, na Turquia, uma reputada jornalista vive uma experiência transcendente. E em Lisboa, o pânico instala-se quando um autocarro é feito refém no centro da cidade. O autoproclamado Estado Islâmico reivindica o ataque e mostra toda a sua força com uma mensagem arrepiante. O país desperta para o terror e o medo cresce na sociedade. Um grande evento de dimensão mundial aproxima-se e há claros indícios de que uma célula terrorista se encontra entre nós. Todas as pistas são importantes para o SIS, sobretudo, quando Afonso Catalão, um conhecido especialista em Ciência Política e Estudos Orientais, é implicado. De antecedentes obscuros, o professor vê-se subitamente envolvido numa estranha sucessão de acontecimentos. E eis que uma modesta família muçulmana refugiada em Portugal surge em cena. A luta contra o tempo começa e a Afonso só é dada uma hipótese para se ilibar: confrontar o passado e reviver o amor por uma mulher que já antes o conduziu ao limiar da própria destruição. Com uma escrita elegante e o seu já tão característico estilo intimista e sofisticado, inspirado em acontecimentos verídicos, Nuno Nepomuceno dá-nos a conhecer "A Célula Adormecida". Passado durante os 30 dias do mês do Ramadão, este é um romance contemporâneo, onde ficção e realidade se confundem num estranho mundo novo e aterrador que a todos nos perturba. Um thriller psicológico de leitura compulsiva, inquietante, negro e inquestionavelmente actual."
Opinião:
Creio que nunca tinha conhecido uma obra que estivesse tão actual no momento em que a li. "A Célula Adormecida" fala de um dos maiores problemas que ameaça o nosso mundo nos dias de hoje: o autoproclamado estado islâmico e as consequências nefastas que a sua actividade terrorista está a ter um pouco por todo o mundo mas principalmente na Europa. Por isso mesmo, este livro mexeu com muitos dos meus medos e fez-me pensar no caminho que o continente europeu está a seguir.
Ao longo do livro, o Nuno levanta várias questões polémicas relativamente ao quanto poderá esse grupo terrorista estar a ser apoiado pelo ocidente à custa de interesses económicos e foi aqui que levei um verdadeiro murro no estômago. Como a política é dos meios em que me sinto menos à vontade e como ainda quero acreditar naquilo que há de bom no ser humano, nunca tinha pensado nessa possibilidade. Contudo, os factos apresentados pelo autor ao longo do livro assustadoramente fizeram muito sentido e esta acabou por ser uma obra que me desafiou a ir mais além e pensar sobre questões difíceis e controversas.
Comparando com a "Trilogia Freelancer", este livro é mais audaz pois nele o Nuno foi mais além e chocou o leitor com acontecimentos extremamente dramáticos e revoltantes. Senti-me perturbada com algumas passagens que nos apresentam um lado mais negro do ser humano mas que, infelizmente, reflectem aquilo que acontece um pouco por todo o mundo. Senti, assim, que o autor decidiu arriscar mais com este livro mostrando a maturidade literária que alcançou desde a sua estreia.
Mas se esta foi uma obra que me revoltou e assustou, foi igualmente uma obra que me fez regressar a um dos melhores períodos da minha vida. Falo do tempo em que vivi na Turquia e convivi de perto com essa cultura magnífica. Em "A Célula Adormecida" parte da acção passa-se nesse incrível país que liga a Europa e a Ásia e simplesmente adorei ler passagens que decorreram em locais onde tive o prazer de estar.
Foi incrível voltar a ter contacto com a cultura muçulmana e comovi-me ao perceber o quanto o Nuno destacou um aspecto que tenho vindo a defender com unhas e dentes desde que esta questão do autoproclamado estado islâmico começou: o islão é uma religião que tem como princípio o amor e a paz e não pode de maneira nenhuma ser associado a actos terroristas. Creio que é aqui que os meios de comunicação têm falhado pois vejo que não são muito esclarecedores neste aspecto e acabam por moldar a opinião de grande parte das pessoas que, dessa forma, acabam por confundir os muçulmanos com terroristas. Esta é uma questão que tenho debatido nos últimos anos e gostei de ver escrito num livro aquilo em que eu tão convictamente acredito.
A profunda pesquisa que o autor fez para este livro permitiu-lhe explicar-nos um pouco os costumes dessa religião e os princípios em que assenta. Por isso mesmo, aconselho este livro não só pela história policial repleta de acção e drama que apresenta mas principalmente porque é uma obra que de tão actual que é nos vai fazer olhar para o que está a acontecer nos dias de hoje com outros olhos.
Por fim, aconselho este livro para quem quer ter a oportunidade de ficar a conhecer melhor o islão e em particular o hospitaleiro e incrível povo turco.
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