Ano de Edição: 2017
Género: Drama
Autora: Betty Milan
Editora: Objectiva
* Por Mariana Oliveira *
A inevitabilidade da morte está presente
desde cedo nas nossas vidas e acaba por ser ela que nos impulsiona a tentar desfrutar
de cada momento especial que passamos neste mundo. Contudo, à medida que os
anos avançam e o corpo começa a trair-nos, a consciência de que um dia teremos
de nos despedir daqueles que amamos torna-se mais real e passa a fazer parte do
nosso dia-a-dia.
Foi precisamente este o mote que levou Betty
Milan a escrever uma série de textos inspirada na sua experiência com a mãe
de 98 anos e todos os sentimentos que essa situação despertou nela.
Sinopse:
“Aos 98 anos, com a saúde debilitada, a
mãe mal ouve e quase não vê. A filha, que se vê no papel mãe da própria mãe,
questiona os médicos, as religiões, tudo. Para quê manter vivo alguém que já
não vive? Num relato comovente, em forma de diário, a filha descreve as
peripécias do dia-a-dia com a mãe. Um livro forte, uma reflexão gritante de tão
actual. A Mãe Eterna apresenta-nos um dilema que mói a alma e nos faz
questionar a vida, a morte e a relação mãe-filha.”
Opinião:
Bastou-me ler a sinopse para
saber que iria terminar este livro com lágrimas nos olhos. Sendo uma pessoa com
uma relação muito próxima da minha mãe, não demorei muito a projectar-me nas
palavras de Betty Milan e a imaginar-me naquela posição.
É verdade que todos sabemos que se
tivermos a sorte de ter uma vida longa e plena, em algum momento o nosso corpo
acabará por começar a falhar-nos e acabaremos por ter de depender de outros
para nos ajudarem nas coisas mais básicas do dia-a-dia. Não raras vezes essa
tarefa acaba por ser desempenhada pelos filhos que aqui acabam por assumir o
papel de pais dos seus pais, tal como a autora refere neste livro. E é aqui que
começamos a perceber as implicações que isso pode ter no cuidador.
Como se sente alguém que, a partir de
determinado momento, tem de ser mãe da sua própria mãe? O que pensa alguém que
passa a ter de cuidar daquela que foi a sua cuidadora no passado?
Comovi-me com as dúvidas que assaltavam
a autora e com a antítese que a acompanha ao longo dos seus textos: o medo de
perder a mãe mas a ideia de que a vida que esta tem já não pode ser realmente
chamada de vida, mas apenas de sobrevivência. Várias vezes Betty Milan
questiona a legitimidade dos médicos em tentar combater a morte a todo o custo
para logo de seguida perceber que não consegue imaginar a sua vida sem a mãe.
Esta luta interior da autora arrepiou-me
e levou-me a pensar o que sentirei um dia se me vir exactamente na mesma
situação, a ser mãe da mãe. Ainda para além disso, tentei imaginar o que
sentirei um dia se me vir na situação de mãe que tem de depender dos seus
filhos para continuar a viver. Este ciclo em que quem cuida um dia será cuidado,
esta inversão de papéis, acontece em grande parte das famílias daí que este
seja um livro actual hoje e daqui a vários anos.
Como já devem ter percebido, esta não é
uma leitura fácil. A frontalidade da autora bem como a impossibilidade de
olharmos para o lado e fingir que nada disto poderá um dia passar-se connosco,
fizeram com que este fosse um livro duro que precisa de ser amadurecido depois
de lido.
Mariana, acho que fico só com a tua resenha porque isto mexe muito comigo
ResponderEliminarUm beijinho.
De facto esta não é de todo uma leitura fácil. O tema é tão delicado que entendo bem o que a Helena quer dizer...
EliminarBeijinhos, Mariana