terça-feira, 23 de maio de 2017

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126º Entrevista do FLAMES: Frankie Chavez


Frankie Chavez


Frankie Chavez está de volta com um novo trabalho. Este foi o motivo que nos levou a mais uma conversa com um dos guitarristas mais talentosos do país. Fiquem com a nossa conversa, e aproveitem para conhecer o trabalho do músico. 




O álbum “Family Tree” é mais ligado à família e à tua recente experiência enquanto pai na altura... entretanto sai o “Heart and Spine” onde se falava na importância de se lutar pelos nossos objectivos e sonhos.. o que nos conta este “Double or Nothing”?
Este álbum também é o resultado de eu ter tido duas filhas gémeas.. entretanto surgiu uma música chamada “Double or Nothing”, porque eu estou sempre a brincar com essa expressão. Este álbum relaciona-se com isso, mas também com o “ir ao jogo”, ou seja, neste caso, eu sou pai de quatro filhos e deparei-me com uma situação meio crítica (mas crítica no bom sentido), que levou a que eu pensasse se continuaria a conseguir fazer música da forma como tinha feito até ali. No entanto eu não queria levar o disco só para assuntos familiares... Em termos de conteúdo (e de letras) o disco fala nisto mas também fala do que aconteceu no Bataclan, fala de terrorismo e da privação de liberdade. Fala no facto de termos de acreditar que “para a frente é que é o caminho”. Este disco fala sobre termos de ir a jogo com o que temos e “logo se vê”.
Já se notava, no “Heart and Spine” a tua preocupação com a conjectura social actual.. Neste isto acontece ainda de forma mais vincada... o que se passa no mundo vai ter sempre influências na tua música? 
Desde que eu tenha alguma preocupação com o que se passa com o mundo, acho que sim, porque a minha música vai ser sempre o reflexo daquilo que eu vou vivendo. Se eu vivesse numa ilha deserta seria diferente do que se eu viver numa cidade como Lisboa, que é o caso, com acesso a notícias e à quantidade de informação que há disponível hoje em dia. Eu acho que nós, inevitavelmente, vamos sempre ser influenciados por aquilo que se passa à nossa volta. E agora o “à nossa volta” já não é só o nosso bairro, mas é o nosso mundo. Ou eu “fecho os olhos” ao mundo ou então acabo por ser influenciado pelas várias coisas que vão acontecendo... A minha música é uma coisa muito orgânica e é sempre o resultado daquilo que eu vou vivendo, e acho que vai ser sempre o resultado disso.  
A música “My Religion” conta com a colaboração de Poli Correia.. podes-nos contar um pouco como surgiu a ideia de o convidar para cantar? 
Sim, eu conheço-o à cerca de 3 anos. Conheci-o no Algarve e criámos logo ali uma empatia enorme. Ele é um músico de que gosto muito.. Conhecia o trabalho dele, mas não o conhecia pessoalmente. Quando isso aconteceu ficámos amigos. Quando escrevi aquela música senti que ele se ia identificar com ela e então convidei-o para participar. Gravámos aquilo tudo em Lisboa, depois combinamos, encontrar-nos em estúdio e ele gravou a parte da voz e acho que tem tudo a ver comigo e com ele.


Sim, e acho que as duas vozes combinam muito bem uma com a outra... Na “My Religion” a letra a certa altura diz: “I guess the world is getting smaller every day”. A que te referias neste caso concreto?
Às pessoas que partem mais cedo e não deviam partir, por variadíssimas razões! Na altura, quando escrevi a música, pensei nas pessoas que morreram devido a um atentado como aquele num concerto... 
Para além deste artista, arranjaste um grupo de músicos interessante que convidaste para participar contigo neste disco. Quem é que gostarias de convidar para trabalhar contigo no futuro? 
Sei lá.. há tanta gente com quem eu gostava de trabalhar! Sou péssimo para responder a estas perguntas do tipo “Olha, fala lá de uma música”.. Deixa-me pensar.. Beck por exemplo... mas era quase impossível tê-lo num disco rock. 
Sei que te inspiras em muitos guitarristas, mas quando pensas numa pessoa para colaborar contigo pensas em alguém que toca o teu mesmo instrumento, ou preferes alguém que toque um instrumento que te complemente?
Agora, lá está, até me lembrei que gostaria muito de colaborar com um guitarrista que admiro muito, o Jack White por exemplo.. como baterista gosto imenso do Steve Jordan é um baterista que eu gostava muito de ter comigo, só para dizer que toquei com ele (risos). Gostava de experimentar um concerto com ele, havia de ser engraçado. Mas o Jack White é o guitarrista/produtor de que mais gosto na actualidade...
Na “My Religion” a certa altura diz-se: “My religion is Rock n' Roll…” contrariamente às religiões que por vezes tendem a afastar as pessoas, a música ajuda a aproximar-nos? Ou também tem este efeito perverso de nos afastar? 
Não, a música é uma celebração, e o que faz é unir as pessoas. E eu digo isso mesmo por isso mesmo. O pessoal mais extremista está completamente enganado e acha que vai fazer com que os concertos acabem e as celebrações da vida acabem! A música é uma celebração da vida e é assim que deve continuar. 
Em geral, gostas de falar sobre as tuas músicas ou preferes que sejam os outros a falar delas? Ou ouvir os outros a falar nas tuas músicas gera-te algum embaraço?
Não me gera embaraço. Prefiro que os outros falem nelas para conseguir perceber o que a minha musica transmite. 
Foste pai de gémeos e houve uma altura em que pensaste se deverias continuar no mundo da música ou não.. Quais são os aspectos negativos de se ter uma carreira nesta área?
Hoje em dia a música é vista quase como um complemento de outras coisas. Para tentar exemplificar: as pessoas quando vão a um restaurante não dizem “epá, posso comer sem pagar?”. Nos concertos, há muita gente a querer entrar e não pagar. Isto é um exemplo diário. Ouço imenso “Não arranjas lá um bilhete?”, “Não arranjas aí um CD?”, “Olha, dá aí uma música para fazer aí um filme”. A música é uma arte como as outras, e uma vez que é arte, há processo criativo que muitas vezes não é pago. Durante o processo criativo eu estou a tocar e não estou a receber ao final do mês. Portanto, é cada vez mais complicado fazer arte num país e numa altura em que a música não é valorizada. É valorizada enquanto complemento, por exemplo, de um spot publicitário. Às vezes gastam-se milhões a fazer uma campanha e a música é aquela coisa que, se puder vir à borla, melhor. Este é um aspecto que tem de ser mudado. Mas é muito complicado de se mudar porque hoje em dia a música é disponibilizada de forma quase gratuita... Mas as pessoas têm de perceber que por detrás de um disco há um processo de gravação, um processo criativo, contratação de músicos, produção física de discos... é complicado. É nesse sentido que eu digo que às vezes me questiono. Eu sei que não vou deixar de fazer música, mas poderia ter de fazer outras coisas. Há poucos músicos em Portugal que conseguem fazer apenas música em Portugal. 
Tivemos a oportunidade de te entrevistar quando saiu o “Heart and Spine”. O que é que o Frankie Chavez de agora diria ao Frankie Chavez daquela altura?
Diria: “Continua que é para fazeres o Double or Nothing” (risos). Dava-lhe incentivo! Ainda há bocado me perguntavam se eu alteraria alguma coisa. Eu já tive esse sentimento nos outros discos. Acho que é normal nós pensarmos que agora faríamos de forma diferente. Mas eu acho que o interessante é isso. O disco torna-se numa fotografia daquele momento. O interessante dos discos e da arte de uma forma geral é o facto de poder ser representativo de uma determinada altura. Isto é o mais importante da arte e as pessoas têm de saber viver bem com isso. Se eu agora fosse refazer o EP da Optimus, o Frankie Chavez, ele ía soar a outra coisa. Tenho outra bagagem, já dei alguns concertos... a musica iria soar de forma diferente. E aquela musica tinha de sair assim naquela altura para também, agora, haver uma margem de progressão. Tu não queres fazer dois discos iguais, e ainda bem que fiz aquele naquela altura, para hoje poder fazer este, e amanhã fazer uma coisa diferente. 
A recente vitória de Portugal na Eurovisão parece que reavivou a paixão dos portugueses pelos artistas lusitanos. Acreditas nesta mudança ou achas que "será sol de pouca dura"?
Acho que cada vez mais se tem dado valor à música portuguesa feita em Portugal, e à música cantada em português. O festival, da mesma forma que deu a conhecer Portugal e os músicos portugueses ao resto da Europa, também deu a conhecer alguns músicos portugueses a pessoas em Portugal que estão meio adormecidas ou que não conheciam, por alguma causalidade. Acho que é importante, e ainda bem que isso aconteceu, mas lembro-me de uma coisa que o Salvador Sobral disse “isto daqui a um tempo ninguém se vai lembrar”. Claro que isso pode acontecer. Eu espero que este festival da Eurovisão tenha estimulado a criação de mais música portuguesa. Já na altura do Heart and Spine eu disse isto: eu acho que a música portuguesa está a passar por um período muito bom porque acho que a qualidade da música que se faz em Portugal (quer seja cantada em português ou em inglês) tem sido muito boa. Aquilo que se faz hoje em dia não está nada atrás do que se tem feito noutros países. Hoje em dia a música feita em Portugal está ao nível da musica mundial. Este festival veio provar isso e espero que seja um estimulo para se continuar a fazer música em Portugal. 
E agora, por onde vais levar este teu novo álbum? Onde te podemos encontrar?
Vou ter algumas datas em Portugal, como o festival bons sons. Vou ter algumas datas em Itália, vamos voltar a Espanha e lá para Outubro há concertos agendados para Portugal. Ainda estou a marcar coisa. 
TOUR 2017

15 de Junho – GUITARRAS AO ALTO com Peixe (Avis,PT)
16 de Junho – GUITARRAS AO ALTO com Peixe (Estremoz, PT)
17 de Junho – GUITARRAS AO ALTO com Peixe (Beirã-Marvão, PT)
24 de Junho - Montemor-o-Novo
5 de Julho – VILLA ADA (Roma, IT)
6 de Julho – TBC (IT)
7 de Julho – BOTANIQUE (Bologna, IT) 8 de Julho – ROCKA IN MUSICA (Roccamandolfi, IT)
9 de Julho – A anunciar (IT)
10 Julho - A anunciar (IT)
14 Julho - A anunciar (IT)
20 de Julho – ORIENTOCCIDENTE (Terranuova Bracciolini, IT)
30 de Julho – ARRIFANA SUNSET FEST (Arrifana, PT)
12 de Agosto - A anunciar (PT)
14 de Agosto – FESTIVAL BONS SONS (Cem Soldos, PT)
19 de Outubro - A anunciar (PT)
20 de Outubro - A anunciar (PT)
21 de Outubro - HARD CLUB (Porto, PT)

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