Título
Original: Ein Deutsches Leben
Ano
de Edição: 2017
Género:
Biográfico, Histórico
Autores: Brunhilde Pomsel e Thore
D. Hansen
Editora:
Objectiva
*
Mariana Oliveira *
Há
alguns anos tive a oportunidade de ler um livro que nos apresenta a perspectiva
na primeira pessoa de alguém que seguiu de perto os passos de Hitler durante a
Segunda Guerra Mundial. Essa obra, com o título “Até ao Fim”, apresentou-me um
ponto de vista completamente diferente de um dos momentos mais sombrios da História
recente do nosso planeta através das palavras de Traudl Junge, uma das últimas
secretárias pessoais de Hitler.
A
experiência foi de tal forma interessante que assim que tive a oportunidade de
voltar a viajar até essa época através do relato fiel de um dos intervenientes
que trabalhava para o governo alemão não hesitei!
Sinopse:
"Neste
livro ficamos a conhecer o relato de Brunhilde Pomsel, antiga secretária de
Joseph Goebbels – o homem responsável pelo Ministério da Propaganda de Adolf
Hitler. Ao longo destas páginas acompanhamos a falta de interesse de Brunhilde
face à ascensão dos nacional-socialistas e das suas próprias aspirações em
tempos de decadência social e moral – de que o aparelho nazi foi o expoente
máximo. Thore D. Hansen organiza e regista, neste excepcional documento, as
memórias desta alemã traçando um impressionante paralelo entre aquela época e
os dias de hoje. Assim, este livro constitui sem qualquer margem para dúvidas
uma chamada de atenção para a geração actual.”
Opinião:
Este
livro despertou em mim alguns dos meus medos mais profundos. Enquanto a leitura
de “Até ao Fim” se centrava fundamentalmente naquilo que aconteceu, “Uma Vida
Alemã” faz um paralelo entre a década de 30 do anterior século e os dias de
hoje. É assustadora a quantidade de semelhanças e não podemos ficar
indiferentes à possibilidade de que algo semelhante àquilo que aconteceu na
Segunda Guerra Mundial possa vir a acontecer na nossa geração ou nas gerações
vindouras. Por vezes é muito fácil cairmos na tentação de achar que somos muito
mais evoluídos e que nunca iríamos cometer tal erro mas se analisarmos os dias
de Brunhilde Pomsel e os nossos dias vamos encontrar vários pontos em comum
entre os jovens e adultos daquela época e nós próprios. Na última porção do
livro Thore D. Hansen faz essa comparação e alerta-nos para que abramos os
olhos e alteremos o rumo dos acontecimentos. Será que ainda vamos a tempo? É
isso que o autor questiona e é precisamente isso que me assusta. Quero
acreditar que sim e que o Ser Humano não voltará a repetir os mesmos erros.
Relativamente
ao relato de Brunhilde propriamente dito, não consegui ter uma opinião consensual.
Se por um lado gostei de ter ficado a saber mais sobre o famoso Ministério da
Propaganda dos nazis, o seu propósito, a forma como funcionava e quem foram as
principais figuras que estiveram na sua liderança, por outro lado não consegui
sentir empatia com Brunhilde Pomsel.
Sei
que é muito fácil criticarmos alguém quando estamos de fora e não fazemos a
mínima ideia do que seria viver na pele tais acontecimentos, contudo a forma
quase distante como ela falava dos factos surpreendeu-me.
Desde
o início percebemos que Brunhilde Pomsel era alguém bastante fútil nos seus
anos de juventude, a própria faz questão de afirmá-lo várias vezes ao longo do
livro, e tal fez com que procurasse um conforto financeiro e continuar com a
sua vida o mais normalmente possível numa altura em que milhares de judeus eram
levados para campos de concentração.
Sei
que na altura a informação não chegava até às pessoas como chega hoje, mas ela
trabalhou durante anos no Ministério da Propaganda e passaram pelas suas mãos
documentos ultra secretos. Segundo a mesma, nunca leu nenhum deles, cumprindo
simplesmente a sua função. Mas fez isto numa altura em que até conhecidos e
amigos seus judeus tinham desaparecido?! A preocupação dela numa altura em que milhares
de pessoas fugiam do país ou simplesmente eram levadas à força consistia em
fazer convenientemente o seu trabalho e ganhar o seu salário ao fim do mês?!
Se
isto não bastasse para me deixar estupefacta, a forma como Brunhilde muitos
anos mais tarde, quando já era centenária, de certa forma “sacudiu a água do
capote” como se não tivesse tido absolutamente nada a ver com o assunto
deixou-me completamente, desculpem-me a expressão, aparvalhada. No caso de
Traudl Junge, a mesma confessou que na altura não tinha noção da gravidade
daquilo que estava a fazer mas tal não impediu que, anos mais tarde, quando
ficou a par das atrocidades que tinham sido cometidas não sentisse uma terrível
culpa. Afinal de contas, tinha contribuído, ainda que sem o saber na altura,
para que um dos momentos mais negros da nossa História tivesse acontecido.
Confesso
que fiquei sem perceber bem a atitude de Brunhilde Pomsel, não sei se será
algum mecanismo de defesa a que a mesma recorreu para conseguir viver os seus
106 anos em relativa paz consigo mesma… talvez seja isso mesmo…
De
qualquer forma, a oportunidade que esta obra nos dá para aprender ainda mais
sobre essa terrível época e, acima de tudo, para evitar que algo de semelhante
se venha a repetir torna-a numa leitura que recomendo a todos os leitores.
Nunca é demais estarmos informados e evitar os erros do passado.
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