Ano de Edição: 2014
Género: Drama, Humor
Autor: José Saramago
Editora: Porto Editora
* Por Mariana Oliveira *
Faço parte do grupo de leitores que ficou com aversão às obras de José Saramago por causa de uma decisão do Ministério da Educação a meu ver tremendamente errada: tornar obrigatória a leitura da obra “O Memorial do Convento” para milhares de adolescentes em todo o país. Ainda não conheci ninguém que com 17 ou 18 anos tivesse a maturidade necessária e experiência de leitura para entender a complexidade da escrita do Nobel português. O que resulta desta péssima opção são milhares de alunos a braços com uma leitura demasiado complexa e que acabam por considerar Saramago como sendo um escritor inacessível e desinteressante.
Foi precisamente por causa disto que demorei anos a atrever-me a dar uma segunda oportunidade aos livros do conceituado escritor português. O receio estava lá e estava pronta para não gostar da obra. Por isso mesmo, foi com surpresa que me deparei com uma das minhas melhores leituras dos últimos tempos!
Sinopse:
«No dia seguinte ninguém morreu.» Assim começa este romance de José Saramago. Colocada a hipótese, o autor desenvolve-a em todas as suas consequências, e o leitor é conduzido com mão de mestre numa ampla divagação sobre a vida, a morte, o amor, e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência.
Opinião:
Mentiria se dissesse que a escrita de Saramago é fácil. Diferente de todos os estilos que encontrei até hoje, a prosa de Saramago é de uma riqueza ímpar. A construção das frases, a inclusão peculiar dos diálogos e os termos utilizados tornaram a leitura de “As Intermitências da Morte” num delicioso desafio.
Relativamente à trama deste livro, não consigo pensar nele sem dividi-lo em duas partes.
Na primeira metade, Saramago confronta-nos com as alterações inevitáveis que a ausência da morte implica. Habituados a sonhar com essa possibilidade, o autor mostra-nos que o facto de os Seres Humanos se tornarem imortais pode trazer muitos mais inconvenientes do que vantagens.
Socorrendo-se de um sentido de humor absolutamente genial, Saramago dispara em todas as direcções: governos, religiões, sindicatos, seguradoras e até a máfia. Ninguém sai ileso nesta história onde a morte se ausenta e a sociedade vê os seus pilares abalados.
Dei por mim a rir-me com várias passagens e a pensar seriamente sobre alguns dos pontos de vista apresentados pelo autor e nos quais eu nunca tinha pensado anteriormente.
Na segunda metade do livro a história muda de tom e a prosa torna-se quase poesia quando Saramago começa a focar-se mais nos aspectos da nossa finitude, da inevitabilidade da morte e na importância que a vida de cada um de nós tem. Adorei esta parte da obra que me levou a mergulhar na intimidade da morte e ver-nos a nós, pessoas, sob a perspectiva de uma entidade cuja função é a de terminar com a nossa existência neste mundo.
Foi com esta segunda metade que fiquei completamente rendida ao autor e com a certeza de que irei voltar às suas obras para voltar a desfrutar da sua genialidade.
Não conhecia o blog, descobri-o hoje através da Edite e gostei muito! As análises são muito cuidadas e rigorosas.
ResponderEliminarbeijinhos
Bem-vinda ao FLAMES :)
EliminarMuito obrigada pelas palavras tão simpáticas.
Beijinhos, Mariana