Diogo Piçarra
O álbum de estreia de Diogo Piçarra chama-se "Espelho" e foi produzido por Fred Ferreira (Banda do Mar, Orelha Negra, Buraka Som Sistema). O álbum é composto por 11 canções. Diogo Piçarra foi compositor, autor e multi-instrumentista. “Tu e Eu”, o primeiro single de “Espelho”, serve de banda sonora à novela “Mar Salgado”. A passagem pelo programa Ídolos, onde se sagrou vencedor da edição de 2012, abriu-lhe um mundo de novas oportunidades. Além de um contrato editorial – o que agora assegura o lançamento de um primeiro álbum através da Universal Music em todo o Mundo – o triunfo levou-o a Londres, onde viveu uma experiência de retiro, de onde regressou com novas ideias e sonhos na bagagem. O álbum é, no fundo, o espelho de tudo o que viveu, musicalmente, nos últimos tempos. Em palco, no espectáculo ‘Espelho’ teremos Diogo Piçarra na voz, guitarra e piano, acompanhado por: Filipe Cabeçadas (bateria), Miguel Santos (baixo) e Francisco Aragão (guitarras e teclado).
A todos os músicos o FLAMES pergunta...
Roberta - Quais são os artistas que mais o inspiram?
Diogo - É difícil.. Essa pergunta é complicada.. sei lá, acho que como todo o público e como todo o artista, ouço de tudo e tento descobrir artistas todos os dias. Mas queres saber se calhar o do momento, ou o que me inspirou?...
Roberta - Sim, pode ser o que no momento o inspira mais.
Diogo - Posso começar por contar talvez as minhas influências. De rock, sempre fui muito de ouvir Green Day e coisas assim mais fortes. No entanto, ao crescer, não sei se foi da idade, comecei a acalmar um pouco e a descobrir bandas como os OneRepublic, The Weekend, James Blake... gosto imenso da Sia, Lykke Li... por isso acho que ouço um pouco de tudo e todos os dias tento descobrir mais música porque acho que é uma maneira de me inspirar, de ver o que tens lá fora e ao mesmo tempo tento expandir mais os meus horizontes, e ao compor acho que consigo contribuir com uma alma nova para a música portuguesa. Acho que na minha música, no meu novo disco, se consegue ver um pouco isso. Tento fugir um pouco ao usual, àqueles instrumentos mais básicos como a guitarra, tento tirar a guitarra das músicas, outras nem sequer coloco um prato da bateria, por isso tento explorar novos caminhos tal como se faz lá fora e acho que este disco tem imenso dessa busca.
Roberta - Qual é o local onde mais gostaria de actuar?
Diogo - Bem, gostava de tocar em tantos sítios... Até na Brodway, mas aí já foge um pouco ao meu estilo. Podia ser em sítios onde eu já estive como na Old Square Arena em Londres. Em Portugal adorava tocar na Meo Arena, ou nos Campos, no Campo Pequeno ou no Porto.. Por isso não sei, é provável que isso aconteça mas fica sempre aquele incógnita “Será que encheria o Meo Arena? Será que encheria o Campo Pequeno?”, não sei, mas sempre foi o meu desejo... era o alcançar de um sonho e um objectivo tocar nesses sítios. Claro que tocar em Londres é sonhar um demasiado alto...
Roberta - Nunca se sabe... Espero que sim! A seguir gostaria de lhe fazer uma pergunta que costumamos fazer a todos os artistas entrevistados e que normalmente acham um pouco estranha...
Diogo - Venha daí. (risos)
Roberta - Que cartaz ou mensagem gostaria de ver a ser erguido num dos seus concertos?
Diogo - (risos) Já vi alguns, é bem comum aquele “Faz-me um filho”, “á-me a tua camisola”, “dá-me a tua palheta”... humm é uma boa pergunta, fogo (risos), e os outros músicos costumam responder logo logo?
Roberta - Não, alguns até nem se conseguem de lembrar de nada...
Diogo - Até podia ser engraçado, ver assim algo do género “Preenches-me a alma”, ou “Preenche-me o coração”, algo mais profundo, algo que me preencha a mim também, uma coisa que seja mais do que apenas a minha imagem, não é? Às vezes é bom ver um cartaz engraçado mas também alguns com coisas assim mais profundas... posso até contar uma história, que não tem nada com um cartaz, mas uma vez, antes de um concerto começar, apareceu um senhor com a filha. Era muito pequenina, e ele apresentou-a. Ela veio ter comigo e começou-me a tocar na cara. Eu não estava a perceber o que é que ela estava a fazer e então disse-me: “És tão bonito”. Foi então que percebi que ela era cega e estava a tentar perceber como eu era. Ela já me devia conhecer de cantar no youtube e doutros sítios mas esta era a primeira vez que ela estava à minha frente e não me conseguia ver... então quis tocar-me na cara para ver como eu era. E isso foi até hoje das coisas que mais me tocou e sensibilizou.
Roberta - Que bonito… Por acaso isso liga-se um pouco com a pergunta que ia fazer de seguida, que não é bem a mesma coisa, mas eu gostava de saber se alguma vez aconteceu alguma coisa assim divertida ou caricata... diferente num concerto.
Diogo - Num concerto? Fogo, não sei, também já dei tantos concertos… bem, costumo contar esta história que já deve estar em todo o lado... foram uns fãs que me deram Danoninhos porque acharam que eu era mais alto, mas afinal não sou assim tão alto quanto isso. Aconteceu também no norte do país, já não sei em que cidade é que foi, mas a entrada para o recinto era a minha entrada de palco e então tive de entrar na bilheteira e as pessoas estavam lá ao fundo no palco em frente e à medida que eu vou entrando elas vão-se apercebendo que eu estava a chegar ao recinto, então vieram todas a correr e pronto, deram-me uma cabeçada na boca, comecei a sangrar e… (risos) lá fui eu cantar com a boca toda inchada.
Ao Diogo Piçarra o FLAMES pergunta...
Roberta - O novo álbum chama-se “Espelho” e pelo que seu o Diogo acha que vem reflectir um pouco o seu percurso nos últimos anos, mas eu gostava de saber em que é que isso se traduz mais concretamente a nível musical.
Diogo - Bom, posso dizer este disco é baseado nas experiências que eu tive em primeiro lugar ao longo destes últimos 3 anos, portanto... baseia-se na minha ida para Londres, no facto de ter ido viver para Lisboa na fase em que estava a compor e a gravar o disco, essas mudanças de ares vieram-me inspirar a escrever músicas. Isto aconteceu tanto na “Café curto” como na “Não me perco” ou mesmo na música “Verdadeiro” também. Foi numa fase em que estava mais seguro e confiante com o meu trabalho. Em segundo lugar, o disco é influênciado pela própria música que eu tenho ouvido nestes últimos 3 anos e que me influenciou neste disco. Comecei a ouvir electrónica em Londres, o folk também estava bastante na moda e isso inspirou-se para a “Café curto” e a “Perfeito”, a “Foque” que surgiu e teve mais destaque, por isso, essas vivências e experiências também me vieram influenciar em baladas e amores e desamores, que me inspiraram assim para músicas mais românticas. Enfim... mais demorosas claro, que falam em relações terminadas... Por isso, estes últimos 3 anos foram intensos nestas experiências da procura de relações, da procura de outra pessoa, da outra metade, de experiências e de nova música ouvida.
Roberta - Este álbum é mais dirigido a um público específico, ou não?
Diogo - Não pensei muito nisso quando escrevi o disco. Tentei abordar e falar muito genericamente de temas como as redes sociais. Toda a gente tem uma rede social, e na “Falso Espelho” tento terminar com uma moral, uma espécie de lição de moral, em que o respeito não se compra e muito menos através das redes sociais. Tentei abordar outras coisas através também de outros temas, como a aceitação ou aquela procura do reconhecimento que nós fazemos, e acho que isso tudo se adequa a toda a gente. Toda a gente quer ser reconhecida pelo trabalho que faz não é? Tu como jornalista ou blogger e eu como artista, por isso na “Verdadeiro”, que é a música que fala disto, acho que também consigo atingir todas as pessoas: jovens, pessoas mais velhas. Na minha linguagem no disco, tanto musical como de letras, tentei ser o mais directo possível, não pensando muito nas idades mas mais nas temáticas e acho que aí todas as pessoas se conseguem identificar, porque todos nós na nossa vida tivemos desgostos amorosos, todos nós temos redes sociais, todos nós temos inseguranças, ansiedades, medos, por isso acho que esse foi mais o meu objectivo e não tanto a ida.
Roberta - Quando acabou o Ídolos havia a hipótese de ir para Londres, ou então a de gravar imediatamente um disco, o disco chegou agora. Acha que as pessoas se esqueceram daquele rapaz que todos os domingos aparecia nas galas e lhes entrava em casa através da TV, ou será que vai ser fácil reavivar a memória das pessoas?
Diogo - É uma pergunta um pouco difícil, é que eu tenho mantido algumas pessoas perto de mim e isto de certa maneira ofusca-me o facto de algumas pessoas se terem esquecido de mim. No entanto eu posso dizer que gostava que esse Diogo não desaparecesse da imagem das pessoas mas que fosse pelo menos superado por este novo Diogo no conteúdo dos originais. O Diogo como compositor, porque até aqui fui apenas intérprete, cantei covers, cantei versões diferentes de músicas conhecidas, por isso agora é uma nova fase, é um novo Diogo. E gostava que mesmo pessoas que se tenham esquecido de mim me ouçam agora de uma maneira diferente, que esqueçam que fui o rapaz do Ídolos e que agora sou um artista completamente novo e que me ouçam sem isso na cabeça, que me ouçam de mente vazia e que apenas julguem o meu trabalho pelo que sou agora e não pelo que eu já passei. Por isso desta maneira não me preocupo se já se esqueceram de mim ou não porque eu vou tentar reaparecer como um novo Diogo. O programa ajudou-me imenso, deu-me experiência e também me deu a vantagem da exposição e de aparecer todos os domingos, e de certa maneira isso ajudou-me a alcançar o nível em que eu estou hoje.
Roberta - Há pouco estávamos a falar das músicas, e o amor é um dos temas principais no álbum, na vida real também é uma pessoa romântica ou não?
Diogo - (risos) Acho que todos nós somos um pouco românticos, seja com outra pessoa, seja com o nosso trabalho... No meu caso, como eu já tenho alguém, já tenho uma pessoa, é claro que eu quero fazer essa pessoa feliz, por isso posso dizer que sim, que sou uma pessoa romântica no aspecto em que gosto de ser aquilo que ela sempre procurou, e não quero dar-lhe razões para ela me deixar. Por isso tento ser sempre a melhor pessoa possível para ela tanto como namorado, como amigo e como familiar. Não é apenas uma companheira, para mim é também a minha melhor amiga e sei que sou romântico nesse aspecto e vejo a relação dessa maneira. Não somos só namorados: somos também melhores amigos um do outro e temos que estar lá nos bons e maus momentos.
Roberta - Cantar em português, pelo que eu me apercebi, sempre foi um sonho para o Diogo, no meio musical em que parece que tudo o que vem de fora é melhor do que é nacional, porquê esta escolha? Porquê, o cantar em português?
Diogo - Cantar em português nunca foi assim uma escolha... foi um processo natural, foi um percurso natural que eu sempre tive a partir do momento em que comecei a tocar guitarra. A primeira música que me surgiu, ou a primeira letra que escrevi, foi em português. Por isso nunca escolhi esse meu desejo de escrever na nossa língua, e sim, tens razão, parece que tudo o que vem de lá de fora é que é melhor ou que é melhor produzido, ou melhor escrito... No entanto eu não concordo e nunca concordei com isso, porque sempre ouvi as músicas inglesas da mesma maneira que ouvi as portuguesas, e ao mesmo tempo que ouço uma letra mal escrita em português e critico, eu ouço a música em inglês e critico na mesma. Há muita música que se ouve em Portugal escrita em inglês e que é muito elogiada e no entanto eu não gosto, porque a mim não me transmite nada ou porque está muito mal escrita. Portanto eu ouço as duas da mesma maneira, não sei se também tive essa experiência por ter ido para Londres.. Mas encaro essas línguas diferentes da mesma maneira, não sei… Temos imensa música portuguesa boa, muito bem escrita, temos óptimos compositores e escritores e eu dou valor à nossa língua por ser muito mais romântica, por ser mais profunda, muito mais abstracta do que a língua inglesa, que às vezes parece mais limitada, ou então são os ingleses que a limitam. Parece que falam sempre do mesmo, acabam sempre com as mesmas expressões, acaba sempre em “the night”, começa sempre em “I”, parece ser muito comum e eu começo cada vez mais a dar valor à nossa língua, e por isso ainda bem que aconteceu eu começar a escrever em português. Claro que vou escrever uma ou outra em inglês para conquistar outros públicos, mas será meramente com esse objectivo. Gosto que as pessoas lá fora também entendam o que eu digo e o que eu faço, e ao escrever em inglês não estou a ignorar essas pessoas... é só mesmo com esse objectivo... tenho respeito às pessoas que me ouvem lá de fora.
Roberta - Uma das músicas que eu achei mais interessante foi “Falso espelho” e já falou um pouco sobre isso, tem a ver com as questões das redes sociais. As redes sociais foram muito importantes quando esteve nos Ídolos porque era uma maneira dos fãs mostrarem o apoio que lhe davam, mas neste álbum mostra com o “Falso espelho” um lado mais perverso desta faceta virtual. Como é que surgiu a ideia desta música?
Diogo - A ideia desta música surge também numa altura em que eu falava com imensa gente sobre as redes sociais, sobre novas gerações que viam as redes sociais como um escape ou como uma carreira. Isso faz-me um pouco de confusão, gente que usa a rede social como um dia-a-dia, para falar com amigos, mas parece que têm começado a encarar aquilo como uma carreira. Pensam na rede social do género“ah, hoje tenho que partilhar uma foto com os meus seguidores” como se aquilo fosse a vida deles, a vida de um artista conhecido. Parece quase que sentem como se fossem um escritor conhecido, mas não são, são uma pessoa normal que na mente delas são famosos ou que são conhecidos na rede social. E eu tenho vindo a falar com imensas pessoas mais velhas que sentem essa diferença, entre a geração de agora e da que vem aí. São pessoas que a primeira coisa que pensam quando saem de casa é “Onde é que eu vou tirar uma foto hoje?” ou “Vou ali àquele café tirar uma foto” e acabam por ir tomar café sem apreciar o momento, ou “Vou àquele jardim para tirar uma foto” e não vão para relaxar ou apanhar um pouco de sol… e essa mudança de perspectiva fez-me escrever essa música, onde também utilizei um pouco o lado feminino, em que digo “…cada vez menos roupas nas fotos e cada vez menos coisas na cabeça…” e falo também no lado masculino que é o culto ao corpo e à imagem, e cada vez que acorda só se interessa pelo filtro e pelo ângulo que vai tirar ao seu corpo... Por isso acabo o meu refrão, a dizer que isso é apenas um “Falso espelho” que é um engano, que o respeito não se compra, ainda muito menos através de filtros e de fotos na internet.
Roberta - Por acaso achei essa música muito interessante… Última pergunta, eu sei que gosta de tatuagens e normalmente algumas pessoas gostam de tatuar coisas que tenham um significado especial, estava a pensar se vai tatuar alguma coisa relacionada com esta nova fase musical.
Diogo - Grande pergunta, como é que eu não pensei nisso? Eu ainda nem estou a pensar no disco como um sucesso... Mantenho as minhas expectativas em baixo em relação ao meu trabalho, mas que me sinto orgulhoso, isso sinto! Agora, se eu tatuasse alguma coisa... se o disco tiver mesmo sucesso e for uma marca na minha vida é claro que vou tatuar! Até porque quero marcar essa experiência nesta minha tela, que é o meu corpo. Tenho imensa coisa tatuada e cada vez que olho para as minhas tatuagens me lembro dessas fases da minha vida. Ainda agora fui ao Brasil e tatuei algo que me fizesse recordar essa viagem de sonho... ir ao Rio de Janeiro... Também quando fui a Londres foi a minha primeira tatuagem e cada vez que olho para o meu lobo lembro-me dessa minha altura, dessa minha estadia em Londres... Por isso é bem provável que tatue algo relacionado com o disco, talvez alguma das minhas frases preferidas.. Mas vai ser difícil escolher porque fui eu que as escrevi. É provável que escreva “Espelho” mas isso farei mais para a frente, mas obrigado pela pergunta e obrigado pela ideia. (risos)
Muito obrigada ao Diogo pela disponibilidade! Eu já ouvi o disco e gostei muito, fiquei bastante impressionada. Muitos parabéns Diogo por este trabalho... Vai ser bastante sucesso, tenho a certeza.