quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

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122º Entrevista do FLAMES: MOMO


MOMO


A 10 de Fevereiro de 2017 o mundo ficou a conhecer o novo álbum de MOMO, artista internacionalmente reconhecido por artistas como Patti Smith. Foi neste contexto que surgiu a nossa conversa... e hoje partilhamos convosco o que Marcelo Frota (em arte MOMO) nos referiu... 

A todos os artistas o FLAMES pergunta...


Quais são os artistas que mais o inspiram? 
Quando comecei muito novo a tocar violão no Brasil, aos 3 anos de idade, eu gostava muitas das coisas de Bossa Nova, Tom Jobim, Vinicius Morais, Marcos Valem, comecei assim… tocando as músicas do Caetano, do Gilberto Gil. Mas na adolescência o meu irmão foi para os Estados Unidos e quando ele voltou de lá ele trouxe muitas coisas do rock metal e rock alternativo: Pixies, Pavement, The Breathers, algumas bandas de rock e obviamente do grunge como os Nirvana… mas eu não sei se posso dizer que isso são influências! Eu escutei um pouco de tudo mas se eu fosse falar de artistas que eu tenho como referências posso falar de Nick Drake ou Leonard Cohan de quem gosto muito! Um cantor de música pop americana que é um compositor maravilhoso é Berth Baker, que eu adoro.

Há algum local onde gostarias muito de poder actuar? 

Gostaria que a minha música chegasse cada vez a um maior número de ouvintes. Mas gostaria de tocar mais na América do Sul. Como músico acabo tendo muitos eventos para brasileiros que vão para os Estados Unidos ou que vão para a Europa. Fui muito aos Estados Unidos fazer shows e agora Portugal, Espanha.. mas eu acho que na Argentina talvez seria um local onde eu gostaria de tocar, mais pela questão da proximidade ali com o Brasil, da cultura deles… e de fugir um pouco ao habitual... Venezuela, Colômbia, Argentina, por aí. 

Lembra-se de alguma situação caricata que tenha ocorrido numa das suas actuações? 
Caricata não, mas uma coisa muito bonita que aconteceu foi quando eu estava tocando na Filadélfia em 2009… 
Eu comecei a tocar violão por causa de um amigo. Uma vez eu fui brincar na casa dele, eu tinha uns 13 anos, e eu vi o irmão dele tocando violão. Fiquei impressionado vendo ele tocar. Eu era muito novo e a partir dali eu juntei dinheiro e comecei fazendo aulas com o professor dele. Esse rapaz depois viajou, saiu do Brasil, foi estudar fora e eu sabia que ele estava nos Estados Unidos mas não sabia onde… aí eu estava tocando na Filadélfia e eu não via ele há mais de 10 anos e ele apareceu no show. Quando vi ele chegando comecei a ficar emocionado, comecei a chorar, agradeci a ele… porque eu já não via ele há anos e ele foi o motivo pelo qual eu entrei na música e comecei a tocar violão. Foi um momento muito bonito. 

Que mensagem gostaria de ver ser erguida num cartaz durante um concerto?
Essa é uma pergunta boa (risos)... mas é difícil. Algo tipo “Tente ficar mais no palco”, ou “Fica mais”, “Toca mais 10”, eu adoro ficar no palco. Fico chateado por ter de sair, aquele momento é único. No palco a vida ganha todo o sentido para mim. Ali eu sinto realmente o porquê de continuar, de fazer disso uma profissão. Ali tudo faz sentido, tudo se complementa, tudo se completa. Então talvez “Toca mais 10”, “Fica mais uma hora”, “Fica mais duas horas”. Não me interessa nada de “Ah que bonito”, “Você é lindo”, nada disso!

Qual o significado de MOMO? 
Quando eu comecei, assinava os meus discos como Marcelo Frota. Eu fazia uns discos e já tinha lançado algumas coisas e depois eu comecei a fazer o “A Estética do rabisco” que foi o primeiro disco com o nome de MOMO que é de 2006. Quando eu estava fazendo esse disco eu estava fazendo uma coisa muito diferente do que eu tinha feito anteriormente. Senti que não era a mesma pessoa que estava fazendo esse disco. Parecia que o disco vinha de um outro lugar. E aí eu pensei "o Marcelo Frota não faz muita coisa nesse disco, isto é uma outra coisa"... Assim, senti que precisava de um novo nome, que fosse de fácil entendimento e pronúncia em qualquer parte do mundo para marcar essa nova fase. Ainda para mais, na época tinha aquele livro “Momo e o Senhor do Tempo” do Michael Ende, que é um livro muito bonito. Era um livro que eu tinha lido e que tinha a figura do rei MOMO, que é uma figura do Carnaval. É uma figura engraçada e carnavalesca. E esse disco era muito pesado, eu achava que esse nome era um contraponto... não diria mais divertido, mas que tivesse uma certa leveza! 
E mais, Momo também é a deusa do sarcasmo na mitologia grega, e eu sou uma pessoa muito engraçada no meu dia a dia, uma pessoa divertida. Então este nome tem um pouco de mim também. Depois da criação daquele disco, assinar Marcelo Frota deixou de fazer sentido… Foi quase como a criação de um alter ego. Criando um outro nome você consegue de uma certa forma se proteger. Eu uso coisas muito pessoais nos discos e esse disco era muito auto referente e então eu criei uma forma de me distanciar um pouco e de me proteger.

Ao MOMO o FLAMES pergunta… 


Os seus últimos álbuns mereceram rasgados elogios um pouco por todo o mundo, incluindo Patti Smith. Sente o peso dessa responsabilidade neste novo álbum? 
Não, eu acho que não sinto muito. Estou indo no 5º disco, se for contando com os discos anteriores, de bandas antigas com quem trabalhei, eu tenho mais de 7 ou 8 discos, então acho que nisso eu estou ficando um pouco acostumado e eu acho que não existe um peso.
Eu acho que nesse disco o desejo maior é que ele chegue ao maior número de pessoas, independentemente de faixa etária, de idade, de língua...
Os meus discos sempre foram bem recebidos pelo público em geral, não só brasileiro como mundial. Sempre tiveram esse tipo de carinho. Eu acho que este disco tem uma vontade minha de ecoar num público maior. Então não sinto um peso ou uma responsabilidade…

Em que é que este álbum é diferente (ou semelhante) dos anteriores? 
Este disco é um disco mais solar, não é de introspecção. É um disco mais para fora, e ele tem muito balanço, muito ritmo, muito graças ao Marcelo. É a continuação de busca dele como produtor. Acho que o Marcelo trouxe toda a sua musicalidade. E as composições também foram escolhidas a dedo. Tínhamos muitas músicas e a gente escolheu 10 de cerca de 20. Foi um repertório difícil de ser escolhido, contrariamente a discos anteriores em que eu tinha um repertório mais fechado. 

Este novo álbum tem músicas em português e apenas uma (Song Of Hope) em inglês. Porquê esta escolha de uma música noutra língua? 
Há algo meio intrínseca entre a letra e uma música. Quando eu crio a melodia começo a cantar alguma coisa, e às vezes eu acho que essa letra não é em português, mas sinto que é em inglês. O que aconteceu é que quando essa melodia nasceu já estava na cara que a letra era em inglês. Era uma melodia que cabia em inglês só, não podia ser em português. Era uma melodia que tinha como característica principal algo da música americana, da língua inglesa mesmo. Como eu não falo francês ou espanhol… talvez se eu falasse também naturalmente fizesse música em francês e espanhol. Mas isso é uma coisa em que eu vou pela melodia, e essa sabia que aquela música era em inglês quando ela nasceu.

Para o aparecimento deste disco, houve imensas pessoas envolvidas, entre elas a Rita Redshoes... há mais algum artista português com quem gostasses de vir a trabalhar? 

Sim, o Camané claro, que na verdade faz parte do disco. Mas eu gostaria de ver um dia ele a cantar uma música minha. Ou pela Ana Moura também. Eu sou fã dela. Mas eu gosto da Rita, gosto da Márcia, do Tiago Bettencourt, são pessoas que eu gosto, que conheço pessoalmente e acho que num futuro breve pode ser que haja algum encontro musical.



Alguma destas músicas lhe é mais querida ou mais chegada por algum motivo?
Eu gosto de todas. Tenho um carinho especial e diferente por cada uma delas. Todas têm uma história e eu lembro de como cada uma delas nasceu todas. Não poderia eleger uma como sendo a mais especial. Todas têm o seu jeito.


Porque este nome para o álbum
Ele está dentro de uma letra, na música do “Pássaro Azul”. Só foi mudado o acento tónico na sílaba.
Na verdade a letra diz “voa voa pássaro azul” mas é “voa, voá”, como se usa na prosódia. Mas eu acho que em Cabo Verde se escreve assim, em vez de “voar” eles botam “voá”. Mas é a metáfora dessa minha vinda para cá, de ter atravessado esse oceano, vir para Lisboa, da mudança de vida…

Até onde é que ainda falta voar? Até onde almeja chegar? 
Eu quero viver no aqui e agora: o presente. Está tudo bom, está tudo certo. Viver o presente mesmo, com intensidade! E trabalhar cada vez mais, compor mais… o meu maior desafio, a minha grande alegria e prazer é compor mais, trabalhar mais. Acho que é isso: continuar fazendo os meus discos, trabalhando e claro, como eu te falei, tentar fazer chegar mais perto do coração das pessoas. Isso é o sonho de qualquer artista, quer dizer, eu acho que é. Qualquer um que lança um disco quer ser ouvido. Mas eu não digo que é isso que me falta. Este é só um desejo, que eu acho que quero que aconteça. 

Um artista faz um trabalho unicamente com base naquilo que sente ou de alguma forma tenta adaptar aquilo que sente ao que o público procura naquele momento?
Pois é... Eu acho que até agora fiz muito o que eu quis mesmo! Aquilo que sinto. Nunca trabalhei com uma pressão, uma linha editorial, uma deadline ou um prazo… é claro que a gente cria isso na gente, né? Eu crio a minha meta dentro da cabeça. Nesse disco o Marcelo ajudou a trazer essa luz, essa coisa um pouco mais solar, mas isso para mim é um movimento natural, que acontece. Acho que acontece naturalmente, eu acho que qualquer tentativa de fazer isso de uma forma não natural, forçada ou muito racional é perigosa. Acho que uma boa obra, um bom trabalho, um bom disco, ele tem dois lados: consegue satisfazer não só o artista como também o público. E acho que quando essas duas coisas acontecem, o objectivo é conquistado. Se é que existe objectivo! Eu acho que existe. Qualquer pessoa que lance um disco ela tem necessidade de comunicar, né? Senão, fica em casa, por conta própria, e não lança. Tem uns artistas, por vezes, que fazem isso e que eu admiro. Eu acho que a arte e o mercado é uma coisa que se complementa, uma obra que se concilia. Mas primeiro tem que gostar, senão como é que os outros vão entender? Acho que quando se gosta do que se faz, isso fica muito impresso e o público sente. É a tal questão da verdade, que é uma coisa que também já está démodé, né? É muito subjectivo, mas eu acho que é isso: fazendo aquilo que se gosta, o público sente.

Obrigada ao Marcelo (MOMO) pela entrevista e simpatia. Podem ouvir o disco aqui :) 

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