Autor:
Raduan Nassar
Ano
de Edição: 2017
Género:
Drama
Editora:
Companhia das Letras
* Por Mariana Oliveira *
A minha primeira experiência com Raduan
Nassar tornou-se na leitura mais desafiante de 2016. Apesar de ter custado,
tive de admitir que não estava preparada para tal obra. Por isso mesmo, foi com
algum receio que avancei para a leitura de “Menina a Caminho”, um livro de
contos do premiado autor brasileiro.
Sinopse:
"Menina a Caminho", o conto que
dá título a este volume, marcou a estreia de Raduan Nassar na literatura na
década de 60. Ao acompanhar os passos da menina que caminha pelas ruas de uma
pequena cidade do interior, o leitor observa com olhar de espanto infantil as
situações corriqueiras da ida de rua, encaminhando-se inevitavelmente para um
desfecho imprevisível. Escrito no início dos anos 60, este conto acaba por
constituir uma espécie de pano de fundo para os textos que se lhe seguiram na
obra do autor. Além dos contos que compunham a primeira edição da colectânea, a
presente edição apresenta dois contos - "Monsenhores" e "O
Velho" - e um ensaio - "A Corrente do Esforço Humano" - nunca
antes publicados em Portugal.
Opinião:
Já por diversas vezes referi que os contos
se tornaram na minha mais recente paixão literária. Adoro poder pegar num livro
e numa dúzia de páginas juntar mais uma história ao rol de aventuras que me
acompanham ao longo destes vários anos de leitora.
Relativamente a esta obra, o conto de
abertura e que lhe dá o título, “Menina a Caminho”, recordou-me a única obra que
li do incrível Ondjaki. Ambos os autores apresentam-nos a cultura do seu país
sob o ponto de vista de uma criança. Contudo, enquanto o jovem escritor nos
fala de Angola, Raduan Nassar transporta-nos para uma pequena povoação rural
brasileira. Para mim este conto foi apenas o aquecimento pois o melhor estava
sem dúvida para vir!
Os contos que compõem este livro não
almejam contar uma história épica, mas sim falar-nos de pessoas normais e das
suas memórias, preocupações e percalços do dia-a-dia de uma forma quase
poética. É que a riqueza da escrita do autor deixou-me completamente conquistada.
O à vontade de Raduan na arte da escrita permite-lhe brincar com as palavras e
conquistar-nos à medida que mergulhamos no mundo das pessoas comuns de um
Brasil de há décadas atrás.
Dois dos contos, “O Ventre Seco” e “Aí
pela Três da Tarde”, entraram imediatamente para o meu grupo de contos
favoritos de sempre. Adorei a ironia e tom directo utilizado no primeiro, que
consiste numa carta a terminar um namoro, enquanto o segundo me relembrou de
que às vezes damos demasiada importância aos nossos problemas e seríamos mais
felizes se nos deixássemos levar por uma “loucura” saudável.
A parte final da obra é constituída por um
ensaio, intitulado“A Corrente do Esforço Humano”, sobre a globalização e a
tendência que alguns países, Brasil incluído, têm para se sentirem inferiores
relativamente às grandes potências económicas mundiais. Apesar de já ter sido
escrito há três décadas, é incrível como em vários aspectos continua a parecer
tão actual. O tom crítico do autor aliado ao conhecimento que demonstra deter
sobre aquilo que se passa fora do seu país deixou-me francamente surpreendida.
Gosto quando alguém não tem quaisquer problemas em pôr o dedo na ferida, nem
que para isso tenha de ferir susceptibilidades e magoar alguns egos. Para mim
isso tem um nome – coragem.
Caso não conheçam Raduan Nassar, aconselho
esta obra para se estrearem com o conceituado autor, vencedor do Prémio Camões
2016.
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