sexta-feira, 19 de abril de 2013

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10ª Entrevista: Richard Zimler (escritor)



Richard Zimler


Nota: A presente entrevista foi feita telefonicamente no dia 19 de Abril de 2013 e foi, aqui, transcrita da forma mais fiel possível. Agradecemos imenso ao autor esta oportunidade única. 

Sigam o autor através do seu site oficial: http://www.zimler.com/
Ou através do seu facebook: http://www.facebook.com/pages/Richard-Zimler/179279892106230?fref=ts

Richard Zimler nasceu em Roslyn Heights (Nova Iorque) em 1956. Tirou o bacharelato em religião comparada na Duke University (1977) e o mestrado em jornalismo na Stanford University (1982). Para além de jornalista foi professor de jornalismo durante 16 anos no Porto, cidade para onde foi morar em 1990. Publicou 9 romances, contos, mas também livros infantis.  Em Portugal, editou O Último Cabalista de LisboaTrevas de LuzMeia-Noite ou o Princípio do MundoGoa ou o Guardião da AuroraÀ Procura de SanaA Sétima PortaConfundir a Cidade com o MarDança Quando Chegares ao fim (livro para crianças), Os Anagramas de VarsóviaIlha Teresa e Hugo e Eu e as Mangas de Marte (livro para crianças). Apesar de ser uma personagem muito acarinhada e conhecida do público português, vamos conhecê-lo um pouco melhor...

Qual é a sua nacionalidade?: Americana e Portuguesa


O seu Filme favorito: Não tenho só um, mas sempre gostei muito do filme Cabaret (1972) de Bob Fosse com a Liza Minelli . Vi-o no mínimo umas 6 ou 7 vezes. As músicas são muito inteligentes, gosto muito, e a atmosfera do filme foi muito bem recriada e tem um significado muito especial por causa da vinda dos nazis  para Berlim  Outro filme que gosto bastante é Fanny e Alexander (1982), um filme de co-produção sueca com uma história muito bonita. Os actores foram maravilhosos.  
O seu Livro favorito: Não sei se é o meu favorito, mas foi um livro que me inspirou muito A Luz em Agosto do grande grande grande escritor William Faulkner. Fiquei tão fascinado com a história desse livro que fiz uma análise do mesmo. Foi um livro que me marcou muito.   
O seu Anime favorito: Nenhum
O seu Manga favorito: Nenhum 
O seu Evento/Espectáculo de música/Programa de Entretenimento favorito: O último concerto que assisti foi em Espinho da cantora Jacinta. Adorei. Acredito que ela tenha muito talento e não é tão conhecida como devia. Um outro espectáculo  que assisti e adorei foi  do Leonard Cohen em Nova York.  
A sua Série de televisão favorita: CSI Las Vegas. É uma série que está muito bem escrita  com actores muito bons. É um programa internacional de muita qualidade. 

Os seus livros são lidos em inúmeros países. Costuma integrar-se no processo de tradução e na construção das capas etc. ou é um processo feito à parte e só tem acesso ao resultado final?
Sempre que posso ou a editora mo permite envolvo-me muito em tudo. Na sinopse, no que se encontra na contracapa do livro, na capa... faço sempre que posso uma revisão muito cuidadosa das versões portuguesas porque é uma língua que conheço bem. Nas outras já não faço uma revisão tão rigorosa, apesar de até compreender bem o francês, por exemplo. Sempre que um dos meus tradutores entra em contacto comigo, respondo-lhes. É uma grande ajuda quando o fazem porque, por mais inteligente que o tradutor seja, há sempre questões em que eu posso ajudar. Estou muito envolvido nesse processo sempre que posso. Por outro lado há sempre escritores que, numa ou noutra edição, têm capas menos bonitas. Às vezes nem têm nada a ver com a história do livro e isso é sempre uma tristeza muito grande pois há muitas pessoas que compram os livros influenciados pela capa. Quando vejo uma capa que não gosto, e já me aconteceu numa edição estrangeira, é sempre uma tristeza muito grande porque sei que ninguém vai comprar o meu livro. Infelizmente há muitos editores que não conseguem fazer bem os aspectos gráficos dos livros e, por isso, sempre que posso, envolvo-me, porque às vezes as minhas ideias são muito melhores. Isto porque, por vezes, quem trabalha nestes meios é da área do marketing, e olha para um livro como quem olha para uma cerveja que tem de promover. Outras vezes é um processo muito arriscado pois não vejo mesmo como será o produto final.

A sua formação de base foi feita, praticamente, no estrangeiro, onde nasceu e viveu grande parte do seu tempo. Cá em Portugal continuou a escrever e a dar aulas. Encontra muitas diferenças entre os dois países ou acha que não há um grande choque cultural?
Há choques culturais enormes porque, pelo menos para mim, quando cheguei a Portugal em 1990, pensava que toda a gente no mundo pensava da mesma maneira sobre o amor, o tempo, a amizade, a tolerância, a intolerância etc. e isso não é verdade. As minhas ideias, em alguns temas, não eram iguais ao do povo português. Por exemplo, quando me mudei para o Porto foram necessárias obras em casa. A relação que o português tem com o tempo não tem nada a ver com o americano. Quando necessitei das obras tive de ligar a muitos profissionais que acabavam, na maioria das vezes, por não cumprir com os horários que estabelecíamos. Isto era um contraste com o qual eu não sabia lidar. Não digo que o americano seja melhor ou pior, tem a ver com as nossas personalidades e era eu que não sabia lidar com as coisas. Mas penso que as coisas estejam a mudar. Eu tenho uma personalidade muito nervosa, por exemplo, e gosto de tudo feito no seu tempo porque senão fico muito nervoso por ter de fazer tudo ao último minuto. É por isso que por vezes não gosto de trabalhar em grupo. Mas a questão do tempo é apenas uma questão simples, imaginem então o que é com questões como a solidariedade, o amor ou a amizade.

Num dos seus livros "À procura de Sana", tornou-se numa das personagens do livro. Foi uma ideia muito original e que tem por base uma história muito interessante que lhe ocorreu. Poderia contá-la aos nossos leitores?
De facto esta foi uma experiência diferente como escritor. Tudo começou em 2000 numa viagem que fiz à Austrália e que tinha uma escala em Londres. Ao todo, a viagem durou 35 horas. Por isso tudo, fiquei muito esgotado. Estava desnorteado e não conseguia dormir por causa da diferença de horários. Estava muito mal e foi muito difícil para mim. Tudo foi uma experiência muito interessante. Quem me "salvou" foram os escritores e os bailarinos que conheci, pois estávamos lá num festival que envolvia a escrita mas também a dança. Neste romance, conto esse evento da minha vida. Lá, encontrei uma bailarina que dizia ser italiana mas que, mais tarde, descobri ser palestiniana. Essa bailarina, Sana, reconheceu-me e falou comigo. Disse que adorou o meu livro "O último cabalista de Lisboa" e que tinha sido um livro importante para ela. E, assim, desenvolvemos uma relação de amizade (daquelas que se estabelecem quando viajamos). No dia seguinte, estava no café que se encontrava fora do hotel, e ouvi uns estilhaços e um corpo a cair. Alguém se tinha suicidado (ou tinha sido morto não se sabia). Fiquei muito traumatizado. Não foi nada fácil. O romance conta a minha procura pela história de Sana. Queria saber porque se tinha suicidado e o que teria acontecido. É uma história que envolve a Palestina, Israel e, no fim, terrorismo. O livro é uma mistura da minha vida com ficção.

A escrita desse livro foi, a nosso ver, um acto corajoso, assim como o foi quando escreveu o livro "Goa ou o Guardião da Aurora", pois sabemos que fez muita pesquisa para o livro, mas decidiu não visitar a cidade... 
Sim, fiz muita pesquisa para acertar em todos os pormenores da vida em Goa no século XVII. Na verdade, eu queria visitar a cidade, mas um amigo meu que conhecia a zona disse que era um risco. Contou-me que a cidade se tinha desenvolvido muito e estava modificada e, então, decidi não ir, pois não queria ser influenciado pelo carácter moderno da cidade. Curiosamente, depois do livro ter saído, muita gente de lá me escreveu a dizer que a descrição era muito fiel e perguntavam-me quando é que eu estava a pensar voltar a Goa... e eu nunca lá tinha ido. Fiquei muito lisonjeado pois vi que tudo tinha batido certo.

Há uns tempos criou uma música muito bonita dedicada ao seu irmão que morreu com HIV. Pensa vir a criar outras músicas ou este foi apenas uma ocasião especial?
Penso que já escrevi umas 7 ou 8 canções. Não escrevo muitas. Estudei música e toco guitarra, mas para além disso estudei também a teoria da música. Curiosamente, para mim, o mais difícil não é a construção da música ou dos sons mas a da letra, porque há muitas músicas com letras vulgares e eu quero criar algo de novo. Curiosamente é isto que me custa mais e curiosamente não consigo escrever músicas enquanto estou a escrever um livro ou um conto, porque fico completamente obcecado com as personagens do livro e dedico-me inteiramente a elas.

E como é que foi a escrita dos guiões para a curta-metragem?
Escrevi com a realizadora Solveig Nordlund o guião para uma curta-metragem "O Espelho Lento" baseado num conto meu. A realizadora conseguiu o patrocínio da ICAM, a entidade portuguesa para os filmes e, assim, realizámo-lo em 2009. Entretanto, escrevi um papel para mim pois eu queria participar nas filmagens e queria ver como tudo se desenrolava, porque não sabia quando é que teria outra oportunidade para o fazer. Adorei a experiência. As actrizes Gracinda Nave e Marta Peneda foram excelentes. A curta estreou-se no Fantasporto e venceu o prémio de Melhor Drama no New York City Downtown Short Film Festival em 2010. Infelizmente esta curta não foi muito vista em portugal, mas no final de Maio podem voltar a vê-la em Lisboa. Gostava muito de a ver a passar na TV. Pode ser que algum canal mostre interesse nela... Entretanto já escrevi uma longa metragem também "I’m Not Here" e a Maria de Medeiros gostava de ser realizadora e actriz, mas ainda não está produzida. Necessitamos ainda de dinheiro para a fazer. Mais recentemente, transformei o livro "Os Anagramas de Varsóvia" também em guião, por uma questão muito simples, é que o livro vai ser transformado numa ópera em New York. Para isso, tem de haver a construção do libreto. Pensei que se construísse o guião, seria muito mais fácil escrever-se o libreto porque já fica muito mais reduzido. O libreto já retira cerca de 80% do livro, assim a tarefa fica mais facilitada. Acabei também de enviar o guião e estou à espera que alguém esteja interessado em fazer um filme com ele.

O nosso anterior entrevistado, o realizador, argumentista e actor, Luís Ismael, teve como desafio deixar uma pergunta ao próximo entrevistado sem saber de quem se tratava (Pode ver a entrevista aqui: (http://flamesmr.blogspot.pt/2013/04/entrevista-ao-realizador-argumentista-e.html). A pergunta foi a seguinte: "Costuma ver cinema português?" 
Curiosamente sim. Penso que o posso dizer, não é segredo para ninguém, mas sou dos poucos portugueses que vai ao cinema ver cinema português, porque acho que um português mais facilmente acredita que um filme feito em Portugal é uma seca. O último filme português que vi foi o filme TABU (do realizador Miguel Gomes) e vi-o em Paris. Vejo muitos filmes em Paris. Gostei muito da segunda parte do filme que achei muito interessante.

Se pudesse, o que é que perguntaria ao próximo autor ou autora (ainda a definir) que iremos entrevistar? 
Qual foi o livro que leu em criança que acha que mais o influenciou?

(Na foto em baixo podem ver o autor com uma das administradoras do blogue FLAMES, a Mariana. Esta foto foi tirada meses depois desta entrevista, no evento "Não há feira mas há escritores" no Porto).


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11 comentários:

  1. Não é segredo para ninguém nem para as meninas que eu adoro a escrita do Richard Zimler e dele como pessoa. Leio e divulgo as obras dele e fico feliz por o terem entrevistado.

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    1. Não é mesmo segredo nenhum. Foi uma entrevista muito importante para nós :) Obrigada Helena por nos ter dado a conhecer este fantástico autor :)

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  2. Uma fantástica entrevista! O autor, em meia dúzia de perguntas, relatou-nos inúmeras vivências da sua vida, umas boas, outras menos felizes, uma das quais despertou a minha curiosidade e creio que a todos os que leram a entrevista. O que terá acontecido de verdade com a bailarina? Um livro que me ficou gravado em mente para ser lido em breve.

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    1. Obrigada Alípio! Pensamos que a curiosidade a que se refere se prende com as vivências que estiveram na base da escrita do livro "À procura de Sana". Certo? A nós despertou imensa curiosidade quando lemos sobre isto e por isso pedimos ao autor para a explicar aos nossos leitores. Será um dos nossos próximos livros a ler, e de certo que faremos um post sobre ele. Mas antes, temos de ler "O último cabalista de Lisboa", o livro que temos dele autografado e que, há muito tempo, tem gritado por nós desde a estante! :)

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  3. Correcto, é sim "Á procura de Sana". Bem sei que existe uma mistura entre realidade e ficção e talvez nunca se venha a saber o que se passou na realidade, mas a história suscitou-me um grande interesse assim que o autor a descreveu.

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  4. Gostei... um dos autores para descobrir, em breve... ;-)... agora me lembro que deixei uma pergunta ao entrevistado seguinte, vou ver o que respondeu... ;-)...

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    1. Sem dúvida! Este autor é maravilhoso! Pois é.. agora toca a ir espreitar o que o Luís Ismael deixou na entrevista dele... Achamos que o IRS lhe anda a roubar um pouquinho de tempo para as palavras cruzadas :(

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  5. Olá Roberta e Mariana! Parabéns pela entrevista, gostei bastante :D Vou continuar a acompanhar o autor, as opiniões dos livros dele e o In Flames :)

    Beijinhos e boas leituras!

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