(foto por Vera Marmelo)
Os Murdering Tripping Blues são Henry Leone Johnson na voz e guitarra, Johnny Dynamite na bateria e Mallory Left Eye nas teclas e backing vocals.
A banda está de regresso com o seu 3º disco Pas Un Autre composto por 9 temas originais inspiradas em várias artes.
Curiosas, rumámos até a um dos espectáculos de apresentação deste novo disco, no dia 14 de Novembro de 2014 no Salão Brazil de Coimbra. Fiquem a conhecer melhor a banda e o seu mais recente trabalho..
A todas as bandas o FLAMES pergunta...
Henry Leone Johnson - Bem, ainda nem a Mallory, nem o Jonhy faziam parte da banda quando o nome surgiu. Eu tinha feito uma maquete, em casa com um amigo meu, mas entretanto estive um ano fora e nesse ano pensei “eh pá, tenho que pegar naquilo que fiz…”. Mas acho que já me estou a adiantar... Quando voltei pus um anúncio, aliás, ainda estava lá quando o fiz, num daqueles fóruns "À procura de baterista" e quando cheguei tinha um e-mail do Jonhy (risos) mas depois já posso explicar essa história se quiserem (risos). Voltando ao nome da banda eu queria um nome [digo queria porque eles ainda não faziam parte], que definisse aquilo que queria fazer e aquilo que eu queria do projecto. Tipo se me perguntassem: “Então que tipo de música é que vocês fazem?”, queria que o próprio nome da banda explicasse logo isso. Então, Murdering Triping Blues vem nessa sequência. Claro que é um bocado metafórico, mais a parte do Murdering. Não é que nós tenhamos intenções violentas ou coisas do género, mas tem a ver com aquela impulsividade e com a crueza dos sentimentos que por vezes te levam a actos extremos. Daí vem o Murdering. Depois o Triping um bocado pelo lado da repetição e do lado psicadélico da coisa, e o Blues vem não só do lado musical mas também da ambiência mais negra. Não é mais depressiva, é simplesmente mais crua, mais negra. O nome surgiu daí.
Pois, já te estavas a adiantar na pergunta... Como é que se conheceram e formaram a vossa banda?
Henry Leone Johnson - Sim, eu calculei (risos)... lá está, fiz uma maquete em casa, que já tinha para aí 6 músicas. Depois chamei Murdering Triping Blues ao projecto mas estive um ano em Roma, e no final desse ano disse: “Eh pá, quando voltar quero pegar nisso e quero ver no que é que dá”. Então pus no fórum o tal anúncio "À procura de baterista" e pronto, quando voltei tinha o e-mail do Jonhy e quando o vi pensei “Ok, este deve ser só um puto que quer dar uns toques para impressionar umas miúdas”. Fui ter com ele, fomos tocar um bocado num estúdio que havia no Bairro Alto e não sei se foi logo nessa primeira vez mas pronto, na primeira ou na segunda, a coisa estava a funcionar e eu mandei maquete, e a coisa funcionou. Gostámos de tocar um com o outro e fomos tocando, e pronto, nem precisámos de dizer “ok”. Fomos fazendo as coisas e elas foram acontecendo. Depois, a partir daí, fomos pensando “ok, vamos gravar qualquer coisa (...) vamos tocar ali…” e depois veio tudo em cadência. Na primeira sessão de fotos da banda, ainda era só eu e o Jonhy, a Mallory era a fotógrafa. Fez essa sessão fotográfica e a seguir fomos tocar a um teatro...
Mallory Left Eye - Eu estava a começar a fazer experiências, como VJ... foi um primeiro concerto experimental.
Henry Leone Johnson - Nunca tínhamos tocado ao vivo, queríamos usar um bocado o facto de tocar num teatro e pedimos-lhe para fazer umas projecções, fazer de VJ e tal. Resultou e depois noutras oportunidades ela fez de VJ também e quando fomos para gravar o primeiro disco, entretanto gravamos um EP que saiu em vinil pela Groovie Records e pela Reging Planet, e como estávamos a pensar em gravar o disco pensamos, "Eh pá, vamos pôr teclas", perguntamos-lhe e ela disse que sim. Compramos o teclado e pronto. O nosso primeiro disco ainda tem poucas músicas com teclado mas depois foi crescendo.
Quais são os artistas que mais vos inspiram musicalmente?
Henry Leone Johnson - Hummm, há muitas referências e muitas coisas mas para mim na altura quando me comecei debruçar mais sobre os blues e as coisas mais rurais, comecei-me a interessar por Sunhouse, Howlin Wolf, Skip James... Depois mais eléctrico o Buddy Guy... comecei a ficar fascinado com aquilo. Caro que Jimi Hendrix também me inspira um bocado e depois tenho outras referências menos ligados aos blues como Birthday Party, e os The Cramps e coisas assim um bocado mais obscuras e outras se calhar mais conhecidas, como os Rolling Stones (numa fase mais inicial), os Queen of the Stone Age... muitas coisas diferentes… e da Mallory…
Mallory Left Eye - Eu nunca tinha olhado muito sequer para teclistas. Não era um instrumento que eu gostasse muito. Mas havia e sempre houve uma mulher que por acaso tem aberto agora concertos para o Morrison mas na altura que eu a descobri ainda não se falava muito nela, que é a Christine Young. Dentro do instrumento que eu toco é a única pessoa que eu admiro mais, mas nunca tive assim ninguém que me inspirasse para tocar, eu sou mesmo “tábua rasa”. Sempre achei que ía ser uma baixista, nunca uma teclista...
Johnny Dynamite - Eu comecei… como pessoa... a ouvir desde Led Zeppelin a Deep Purple, Pink Floyd… Depois como baterista, quando comecei a tocar, algumas dessas bandas foram influência também, mais Led Zeppelin talvez. Depois mais tarde comecei a ouvir bandas mais recentes: Queen of the Stone Age, Nine Inch Nails... ainda à pouco tempo descobri uma banda americana que adoro, que se chama All Them Witches. Pronto isto depois há muitas bandas, muitos bateristas, há muita gente… e não só bateristas, eu adoro músicos que nem bateristas são.
Qual é o local onde mais gostariam de tocar?
Henry Leone Johnson - Um local onde as pessoas estivessem mesmo para nos ouvir (risos). Claro que há sempre aqueles sítios emblemáticos... Gostaria de tocar no Madison Square Garden. Mas por outro lado não gostaria. Por um lado gostaria porque significava que já teríamos atingido um patamar muito alto, mas por outro lado não, porque acho que era uma sala um bocado impessoal para nós. Essas salas maiores são um bocado impessoais. Mas felizmente já tocamos onde queríamos mesmo tocar, Paredes de Coura por exemplo, na Aula Magna que é um espaço que pelo menos eu gosto bastante, mas sim, basicamente nos sítios onde gostem de nos ter. Não é uma resposta politicamente correcta...
Que cartaz ou mensagem gostariam de ver erguido num concerto vosso?
Henry Leone Johnson - (risos) É uma boa pergunta, por acaso nunca aconteceu, mas sei lá... Talvez a mais clássica “Dá-me a tua palheta”, ou “Dá-me a tua t-shirt”, mais porque... é sinal que aquela pessoa gosta do que fazes e quer uma coisa tua! Algo em que tu tocaste e… quando é uma coisa obsessiva é mau, mas quando quer mesmo algo teu, isso mostra que tu és importante para ela, por isso acho que era esse o cartaz, eu pessoalmente gostava de ver. Mallory, o que é que gostavas de ver ser erguido num cartaz?
Mallory Left Eye - “Quero ver-vos outra vez” (risos) e tu Jonhy? Mas vá, diz a verdade (risos).
Johnny Dynamit - Eh pá, não sei…
Henry Leone Johnson - Tipo “Faz-me um filho” ou coisa assim
Mallory Left Eye - Eu acho que o Jonhy gostava disso mas sem a parte do filho (risos)
Vocês lembram-se de alguma cena caricata que tenha ocorrido nalgum concerto?
Henry Leone Johnson - Há umas quantas, eu lembrei-me duma mas não tem propriamente a ver com o concerto mas… vínhamos tocar aqui à Queima da Fitas (eu e a Mallory vínhamos num carro e o Jonhy vinha noutro). Então vínhamos muito bem na autoestrada e de repente abre o capot do carro e fica-nos a cobrir o vidro da frente e eu fiquei assim tipo uns segundos “não vejo nada”, e pronto, eu encostei e ele veio ter connosco. (UFA)
Johnny Dynamit - Lembro-me de uma, aconteceu à Mallory, de uma pessoa que entrou pelo palco e… foi tudo abaixo.
Henry Leone Johnson - Ah ya ya, foi um concerto bastante efusivo de parte a parte, nossa e do público. Então evadiram o palco e essas coisas... Estava tudo a curtir, mas um rapaz já bastante alcoolizado, acho que inadvertidamente deitou abaixo o amplificador da Mallory. Mas há sempre pessoal que quer tocar no teclado…
Mallory Left Eye - Depois pediu muitas desculpas, ficou com peso na consciência (risos) mas já tive uma pessoa do público agarrada à minha perna, uma rapariga em Leiria... Ficou montes de tempo agarrada à minha perna, eu ainda tocava sentada e só tentava afastá-la esperneando...
Aos Murdering Tripping Blues o FLAMES pergunta...
Henry Leone Johnson - Bem, isto já vem desde o início, dos nomes que nós escolhemos, nomes artísticos, ou personas. Basicamente o que no cinema mais nos interessa, ao nível da banda não a nível pessoal, é as ambiências que os filmes têm e ambientes mais negros. Não uma coisa depressiva, não queria utilizar a palavra “alternativa”, mas nada daquela coisa de pipocas e muitos brilhantes, com muita coisa a acontecer e depois sem um ambiente global… O Leone no meu nome vem do Sérgio Leone que era o realizador do western "Spaghetti". Fez "O Bom, o Mau e o Vilão", o "Era uma vez na América" e mais uns quantos filmes. Então a ambiência dos filmes dele tem muito a ver connosco porque tem momentos quase parados que criam muita tensão e de repente acontece uma acção super veloz que dura uns segundos e depois aquilo volta àquele ambiente de tensão. Isso é o tipo de coisas que acabam por nos influenciar no cinema. E algumas temáticas também, mas é mais pelos ambientes dos filmes.
Também nos videoclips as imagens eram um pouco mais cruas, não eram tanto… lá está, não eram tão “limpinhas e bonitinhas”, eram mais reais…
Henry Leone Johnson - Sim, foi essa a minha opção. Nós não tínhamos orçamento para os vídeoclips e então pesquisei na internet, bibliotecas de filmes, clips e coisas assim. Comecei a descobrir os filmes americanos dos anos 50, 60, que eles chamam de "filmes educativos", de "higiene mental", que basicamente mostravam aos adolescentes na escola. Era para lhes mostrar, que “não deves roubar porque acontece isto", ou "não deves tomar drogas porque acontece aquilo". Também eram filmes sobre a sexualidade e o cuidado a ter com as doenças, engravidar, etc. Então aquela imagem e aquele ambiente, lá está, era muito interessante para nós e depois foi mais interessante poder virá-los ao contrário. Ou seja, nós é que fazemos a apologia dos nossos comportamentos. Criámos uma história com esses filmes. Foi interessante para nós pegar nisso e criar uma história com filmes diferentes e acho que ficaram bem. Vê-se que é um bocado retalhado, que tem pedaços de vários filmes mas vê-se também que há uma história global e tirando os factores da imagem e os actores diferentes poderia ser uma coisa toda junta.
E porque é que escolheram este nome para o vosso 3º álbum?
Henry Leone Johnson - Inicialmente não íamos dar um nome, achámos que devia ser "Murdering Triping Blues" só, porque agora achamos que é muito mais um nosso som e já estamos muito mais perto daquilo que é a identidade da banda, sem… sem chamar tantas referências ou que sejam tão evidentes. Depois eu ouvi essa frase num filme ou li em qualquer lado e ressoou na minha cabeça e enquanto estava a pensar nisso, resaltou e pensei: “bem, isto era perfeito”. Basicamente não era para dizer que este disco era mais outro, não era só para continuar a coisa... Achamos que este disco é diferente. O próprio facto de estar em francês o título, mas as letras em inglês e o imaginário ser mais anglo-saxónico... Isso também causa estranheza, tipo “estes gajos metem o nome em francês porquê?”. Então essa estranheza tem a ver com este disco porque também achamos que é um bocado mais difícil. À primeira escuta não entra bem ou fica estranho, mas essa estranheza também está nesse tipo e nós gostamos dele e decidimos nomeá-lo.
E então, em que é que esse álbum acaba por ser diferente dos outros? Sei que vocês disseram que era mais genuíno...
Henry Leone Johnson - Não sei se é mais genuíno, mas sim mais próximos do que somos agora, porque acho que quando começámos estávamos muito excitados com tudo. Começámos a ter muitas respostas positivas. Eu mandava emails tipo “ah, gostávamos de ir tocar ao Musicbox”, ou aqui e acolá e as pessoas aceitavam e nós “wow vamos tocar ao Musicbox”!!! Depois contactávamos pessoal dos média e vinham ter connosco e diziam que nos tinham ouvido porque alguém lhes passou a música. Nós nunca tínhamos propriamente tocado em bandas antes e nunca tínhamos entrado nesse mundo, e então estávamos a entrar nesse mundo e a ser recebidos de braços abertos, o que foi um pouco estranho. Não estranho por nunca acreditarmos que o que fazíamos fosse bom e aceite, mas porque não pensávamos ter uma resposta tão positiva e tão rápida. Então esse primeiro disco é muito fruto disso. No segundo já começamos a experimentar mais coisas e já tínhamos tocado muito ao vivo, conhecido pessoas... já estávamos a fazer coisas diferentes. Já passaram alguns anos desde que começamos a fazer isto. Já não há tanta distracção, não é que seja distracção mas já não há essa influência tão directa. Se calhar agora fazemos as músicas com mais… não é com mais calma mas mais limpos nesse sentido. As músicas sempre surgiram de uma forma muito impulsiva, nunca trabalhámos muito nas coisas e nunca fizemos grandes arranjos porque achamos que isso acaba por mascarar a essência da música. Portanto, nesse aspecto estamos iguais, mas lá está, temos esse espaço mental e uma maturidade maior também para explorar outros caminhos, caminhos que já começámos a explorar no segundo disco mas que agora levamos mais além. Não é um disco “sempre a abrir” como foi o primeiro. Tem mais dinâmicas e tem mais ambientes, por isso é que é um disco diferente dos outros. Sentimos que é um disco mais nosso, claro que este disco também tem muito do que vivemos mas não é aquela coisa tão inicialmente entusiasmada de estar tudo a acontecer, este é mais ponderado nesse aspecto.
Obrigada pela simpatia, disponibilidade, e por atrasarem o jantar por nossa causa!
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