sexta-feira, 18 de setembro de 2015

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106ª Entrevista do FLAMES: Virgem Suta


Virgem Suta



Virgem Suta é composto por Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo. Este duo português canta na língua de Camões e encanta todos aqueles que tomam a liberdade de ouvir com atenção as suas letras. 
Limbo, o novo disco, acaba de estar disponível para venda, e foi o pretexto para irmos conversar com eles. 
Foi enquanto Jorge Benvinda passeava os seus cães no fantástico Alentejo, que se deu a nossa conversa. Vejam aqui porque consideramos os Virgem Suta a personificação da boa disposição, talento e optimismo. 


A todos os artistas o FLAMES pergunta...

Como é que se conheceram e decidiram formar os Virgem Suta?

Conhecemo-nos em casa de namoradas (risos). Durante a frequência Universitária. Na altura namorei com uma rapariga e acabei por ir morar com ela, e o [Nuno] Figueiredo na altura também conheceu uma rapariga e também foi morar com ela. Então eu estava a chegar a casa com a menina e ele estava no sofá a tocar guitarra. Trocámos um olhar e um "boa noite" afastado. Aquilo era uma espécie de República Universitária. Fomos convivendo uns com os outros lá em casa e já éramos 4 namorados de 4 raparigas que lá moravam. Acabei por ser convidado a participar num projecto e começar a cantar. Estava lá o Jorge Serafim, que é comediante e contador de histórias aqui em Beja. E na altura fizemos um projecto com ele e com mais amigos aqui de Beja que estudavam também. Esses foram os primeiros passos. Eu tinha praí os meus 20-22 anos. Começamos assim com as nossas primeiras canções mais ou menos com esta idade e tornamo-nos assim uma banda com projectos em comum, até ao dia de hoje em que somos um duo. Acabámos os dois só, o que por vezes é bom porque pode ser complicado trabalhar com muita gente. Estes foram mesmo os primórdios. Depois começámos a trabalhar juntos as canções até que surgiu o primeiro álbum em 2001.

E porquê da escolha deste nome para a banda?
Virgem Suta... olha nós pensámos em imensos nomes. Para nós este nome tem um significado muito forte. Funciona um bocadinho como o yin e yang. Suta aqui em Beja tem uma determinada conotação, um determinado significado. "Estava com uma grande Suta" tem a ver um pouco com o exagero, com o lado mais extrovertido. Este lado virgem associado à suta dá-nos um oposto. Traduz um pouco esta necessidade de se encontrar um equilíbrio, uma procura que agora é necessária por esta nova Humanidade. 

Agora que estava a falar sobre isto, sobre esta dualidade, lembrei-me das músicas deste novo álbum. Reparei que acontece isto um pouco em todos os vossos CD's. Parece-me que vocês usam muito esta questão dos opostos nas músicas...
Sim, mas o engraçado é que fazemos isso sem nos apercebermos. Mas os opostos também não são iguais para todos. Por exemplo, quando se fala em "doce lar", o conceito de "doce lar" pode ser diferente. O meu conceito será certamente diferente do conceito de um sem abrigo que mora na rua. Para mim o "doce lar" pode ser uma casa da aldeia. No fundo este conceito para mim é o local onde se pode descansar a cabeça e estar em paz. No caso deste 3º álbum, o Limbo, não é bem a mesma coisa. falamos de sobrevivência, naquilo que nós vivemos que pode ser bom mas também pode ser mau. É uma coisa que existe e que está presente na nossa vida, a dualidade. Por mais que nós nos cheguemos à frente, que estejamos a fazer alguma coisa ou que esperemos alguma coisa delas, da vida, do mundo... as coisas podem ter sempre dois lado. Por vezes precisamos de ter sorte para não tropeçar numa ravina ou seja onde for. Temos de ter presente que nem tudo pode ser positivo, pode sempre haver um lado negativo mas nós temos de acreditar e temos de nos "atirar para a frente". Temos de arriscar também. Pode não dar certo, algo pode correr errado, mas é preciso insistir, arriscar, fazer, atirarmo-nos para a frente sem ter medo.

Já falámos à pouco um bocadinho de quando se conheceram, mas tem presente aquele dia que ficou considerado como sendo o vosso primeiro ensaio? Como duo? Como Virgem Suta no fundo...  
Sim. O nosso primeiro ensaio, de certa forma, surgiu ainda antes da criação do nosso primeiro álbum. A primeira vez que funcionámos como duo surgiu com a necessidade de participarmos num festival. Quando tínhamos a banda acontecia muito que um estava na tropa, o outro estava em Faro, o outro estava não sei onde. Eu e o Figueiredo queríamos participar no festival, mas não tínhamos a banda para ir ao festival em Gaia...

Aquele em que vocês acabaram em 2º lugar...
Exactamente! E essa foi a primeira vez que nós usamos o nome de Virgem Suta, foi nesse festival. Foi enquanto duo que nós nos apresentámos e foi por isso que acabamos por nos juntar e por criar este projecto e fazer o disco a 2. A primeira vez ensaiamos na cave da casa da cultura de Beja. Gravámos uma série de músicas que tínhamos. Enviámos para o festival, fomos seleccionados... Eu lembro-me de estar neste festival e de, antes de entrar, estar muito ansioso. Fico sempre um bocadinho ansioso antes do concertos, aquela "coisa" que nós temos sempre antes... porque queremos que apreciem a nossa música. Queremos sempre que corra tudo bem! Lembro-me de nesse festival eu estar a tocar e a minha perna (a que apoia a guitarra) tremia tanto que a guitarra saltava. Depois relaxei um bocadinho, e acabou por correr tudo bem (risos). Foi engraçado, agora é giro olhar para trás e relembrar. Foi esse o primeiro ensaio que fizemos, só depois lançámos o primeiro álbum. A verdade é que enquanto duo funcionamos bem e já fomos a muito lado, ao Canadá, já estivemos praticamente na Hungria, enfim coisas que às vezes é muito difícil de se fazer com bandas maiores porque é mais dispendioso. Isto dá-nos a vantagem porque é mais fácil tomar decisões por exemplo.

Normalmente quais são os artistas que vos inspiram?
Há muitos artistas que nos inspiram... desde Zeca Afonso, Sérgio Godinho (veja entrevista ao FLAMES aqui), muitos artistas de música portuguesa, Ornatos Violeta por exemplo influenciaram-me imenso, Radiohead (risos). Há sempre muita gente que nós ouvimos, que escrevem coisas bonitas e nós ouvimos e sem nos apercebermos influenciam-nos ou então dão-nos vontade de escrever canções. Às vezes passa um bocadinho por isso. António Zambujo (veja entrevista ao FLAMES aqui), que é um tipo aqui de Beja (risos). Ainda ontem à noite o estava a ouvir a cantar musicas em brasileiro. Achei fantástico. Às vezes dou por mim a pensar mais nas letras, na poesia, no próprio acto fonético. Começo a dar maior importância ao jogo de palavras. Ontem estava a ouvi-lo e a ter essa percepção. 

Quem é que normalmente é o responsável pela composição das vossas letras? Ou vocês trabalham mais em conjunto?
Sim, é mais isso... O Nuno escreve, eu também... no meio do processo recuperamos canções... Ambos escrevemos canções. Às vezes eu vejo o que ele escreve e gosto, ou repesco mais tarde. Para cada disco cada um faz mais ou menos 15 músicas para trabalharmos e depois aproveitamos X. Às vezes aproveitamos mais das minhas outras vezes é mais das deles. Algumas vezes podem ser músicas feitas a meias... Não há uma regra. No primeiro álbum nós tínhamos praí umas 30 músicas cada um para trabalharmos. Também ouvimos muito a opinião de amigos ou da editora.

Qual é o local onde gostariam mais de tocar?
Um dos locais onde mais gostaríamos de ir é o Brasil. Adorava voltar ao Brasil. Gostava de ir a São Paulo e fazer a rede de teatros toda. Fazia-me todo o sentido ir aos países que falam a nossa língua. Isto são coisas que devem ser muito bem planificadas e temos de pensar sempre nas especificações de cada pais. Gostávamos também muito de ir a Cabo Verde. Queríamos também muito ir a algumas comunidades portuguesas em vários países. No fundo o que nós queremos é chegar às pessoas, a quem está desse lado, e se o podermos fazer a viajar, melhor ainda. Mas depende muito do público. Eu adorei ir ao Brasil. O povo brasileiro é um povo muito atento. Quando lá estivemos já estavam informados sobre quem nós éramos, já tinham ouvido as músicas... Nós ficámos espantados com a informação que eles tinham. Já nos tinham estado a ouvir na internet e isso também despertou a nossa curiosidade para com eles. Acho que o público brasileiro é um público muito interessante. Gostávamos muito de lá voltar. 

Há algum cartaz ou mensagem que vocês gostassem de ver a ser erguida num concerto?
"Nós somos felizes com vocês". 
Seria assim das coisas que me daria maior gozo, saber que alguém se pode sentir feliz com a nossa música! Saber que a nossa música pode trazer a alguém um sentimento de felicidade e bem-estar daria sem dúvida muito gozo. É bom ver que as pessoas estão connosco, sabe bem ouvir que nos apoiam. Seria talvez uma das mensagens que gostaríamos de ouvir. 
Também ficaríamos muito contentes por ler:

"Vamos fazer a revolução" (risos). 

Vocês lembram-se de alguma situação caricata ou diferente que já vos tenha acontecido num concerto?
Sabes, as nossas letras são muito intrincadas e por isso basta-me eu perder uma das palavra que me esqueço de tudo o resto e perco o fio à meada da canção. Já houve algumas ocasiões em que, por causa disso, me esqueci da letra. Às vezes em letras muito simples, como acontece no "Dança de Balcão" que já cantei tantas vezes, e de repente dá-me uma branca. Uma vez aconteceu-me, parei o concerto e disse "Meus amigos desculpem, mas enganei-me na canção, alguém sabe a letra? Esqueci-me..." então uma pessoa subiu ao palco e ajudou-me a cantar a canção. Ainda hoje há gente que acha que foi de propósito. Mas não, foi uma tentativa de dar a volta à situação. Nós temos de dar sempre a volta às situações. Uma vez também íamos para Praga e à ultima da hora o Figueiredo foi chamado. Tinha os pedais na mochila e aquilo estava a dar problemas, deviam pensar que ele tinha lá alguma bomba. Não o queriam fazer viajar por causa disso. Estávamos a ver que ele não embarcava. Pronto, temos tido assim algumas situações mas nada de grave, nem que crie demasiado riso mas temos tido algumas engraçadas.

Aos Virgem Suta o FLAMES pergunta...

Nos vossos discos sente-se uma fusão de géneros. Pressuponho estas venham das diversas influências que tenham... 
Não sei.. durante o processo de composição não pensamos nisso. Por exemplo, não ouço música para procurar ideias, não ouço música a pensar nisso. Vou gravando as minhas ideias... eu gravo muitas melodias de voz quando estou no carro ou em casa (tenha uma guitarra à mão ou não) e depois ouço e penso se faz sentido ou não fazer uma letra para ela. Mas algo que eu aprendi na vida é que tudo o que fazemos tem múltiplas influencias. Isto eu aplico na música mas também na restauração que é uma outra área minha. Aplico a tudo o que tenho feito (risos) mesmo na gestão da qualidade, na abertura de restaurantes e bares, nós usamos sempre tudo aquilo que aprendemos em tudo. Tudo aquilo que aprendemos é essencial para a nossa vida, tudo é um reflexo do que sentimos e a música é tudo isso. As influências, as músicas que ouvimos, tudo influência. É uma escola de possibilidade, mas não é uma coisa pensada, mas tudo aquilo que nós sentimos e pensamos vai sendo alteradas e daí surgem as nossas múltiplas influências. Sem dúvida que altera também a nossa forma de ver as coisas, mas não é algo pensado... 

Por acaso quando eu estava a ouvir o disco pensei que fosse uma coisa propositada, porque parece uma coisa muito vincada... Pensei logo isso quando ouvi a primeira música e depois passei para a segunda... o estilo parecia muito distinto, e pensei que vocês quisessem criar uma mistura de estilos... 
Isso tem muito a ver com a forma como se faz a canção.. com as forma de a vestir, ou pela forma de a cantar, no fundo, a forma como nós a arranjamos. Pode ter uma orquestra, ou ter só uma guitarra, pode ter diferentes vozes... São os arranjos que tu depois fazes para uma canção que a vão definir.. mas eu acho que já estou a perceber o que tu estás a dizer..
Sabes há todo um universo da canção que eu gostaria de explorar. Por exemplo, gostaria de fazer um arranjo de vozes. Neste disco não fizemos muito isso. Se eu estivesse a fazer um álbum que fosse só meu, neste momento,  usaria outros ambientes. Por exemplo, neste álbum deu-me muito gozo fazer os arranjos com as guitarras e fazer as camadas com vozes. Depois é tudo um processo normal, nós criamos pontos de semelhança ou de influência mas não de forma estudada nem vincada. 

O vosso novo disco “Limbo” já se encontra no MEO Music e sai fisicamente a 18 de Setembro. Como tem sido o feedback de quem já o ouviu? 
Sim temos tido bastante feedback, por exemplo por mensagem privada pelo facebook. Também temos visto nas visualizações do nosso ID que o pessoal gostou muito, isto porque nós decidimos fazer algumas brincadeiras/adaptações para chamar um pouco à atenção e sermos diferentes...brincar um bocado com isto. O feedback tem sido bastante porreiro. Ninguém ainda nos disse que não gostou, mas deve haver quem não goste. Ainda ninguém nos disse "odeio o vosso trabalho" (risos) ou "não acho piada nenhuma a isto". 

As vossas músicas costumam ser bastante positivas, ou pelo menos terminam de forma mais positiva. Vocês são pessoas mais optimistas? 
Sim, eu acho que nós somos bastante optimistas. Se não fossemos não arriscávamos. Eu acho que nós vemos sempre "o copo meio cheio". Não quer dizer que de vez em quando não olhemos e pensemos "Mas o que é que se passa com o copo?", mas certamente a forma como nós nos atiramos para a frente reflecte um certo optimismo. Nós vivemos no Alentejo de uma forma simpática e porreira, numa zona onde dá para trabalhar, inventar... é um sítio fantástico com coisas incríveis e cheio de oportunidades. Gostamos de dizer que temos de ser nós próprios a criar as nossas próprias oportunidades, temos de inventar para tornar tudo isto mais interessante. Esse é sempre o nosso caminho, ver as coisas com o lado optimista! É preciso acreditar!

Quais são os vossos próximos passos e onde é que poderemos encontrar-vos nos próximos tempos?
Olha, eu sinceramente não sei (risos)! Estamos  agora a tratar da promoção do disco, vamos 10 dias para Macau... e sei que estamos agora a agendar a fazer marcações mas não sei dizer dias... Sigam-nos no facebook (https://www.facebook.com/virgemsuta) porque lá terão toda a informação necessária e onde divulgaremos atempadamente o nosso calendário. 

Muito obrigada ao Jorge Benvinda pela sua disponibilidade e simpatia. Desejamos o maior sucesso aos Virgem Suta :)



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