segunda-feira, 16 de abril de 2018

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127ª Entrevista do FLAMES: Daniel Cardoso (produtor e músico português)


Daniel Cardoso


Daniel Cardoso é um dos membros de uma das minhas bandas favoritas da vida: os Anathema. Para além do mais é baterista e, como alguns de vocês sabem, também eu toco bateria. Por isso quando aceitou responder a esta entrevista quase julguei que estava a sonhar. 



Mas Daniel Cardoso é muito mais do que isso: é um produtor e músico autodidacta, o que aumenta apenas o meu respeito por ele. Fiquem com a entrevista:

A todos os artistas o FLAMES pergunta... 


Quais são os artistas que mais te inspiram?

É-me extremamente difícil responder a isso, para ser sincero nunca me senti muito inspirado por outros artistas. Sou acima de tudo uma pessoa inspirada pela vida. Sinto admiração por alguns artistas pela postura que têm na música e na vida, por exemplo artistas como o Dave Grohl, mas não me considero propriamente inspirado por eles.

Há algum local onde gostarias muito de poder tocar?
Nos últimos anos tenho tido a sorte de tocar em locais e países onde sempre sonhei ir, recorrentemente em alguns dos casos. Talvez pudesse dizer o Irão (se numa realidade paralela fosse seguro e realista uma banda de rock ir lá tocar) pelo simples facto de que é provavelmente o país onde a banda em que toco tem mais fãs per capita. É raro darmos um concerto, seja em que país for, onde não haja várias pessoas do Irão e até muitas vezes já perguntamos por brincadeira “quantos de vocês são do Irão?”. Infelizmente a juventude e a liberdade de expressão no Irão ainda são conceitos constantemente cilindrados pelas tradições dos velhos regimes o que faz com que bandas que empunhem a bandeira da liberdade e da igualdade não sejam propriamente bem vistas lá. Mas talvez um dia.

Lembras-te de alguma situação caricata que tenha ocorrido num concerto? 
Lembro-me de uma vez no fim de uma actuação mandar uma baqueta para o público mas como tinha as luzes apontadas à cara não consegui ver para onde estava a apontar. No preciso momento em que a baqueta me saiu das mãos apagaram-se as luzes de frente e consegui ver, assim como que em camera lenta, que acertou em cheio da cabeça de uma rapariga que estava de costas. Felizmente o cabelo deve ter amortecido o impacto e acho que ela não se magoou nem levou a mal, provavelmente até levou foi a baqueta para casa. Tocar em palco com o Dr. Stephen Hawking e ter o Hans Zimmer, o Brian May e o Brian Eno na plateia também foi bastante caricato. 

Que mensagem gostarias de ver ser erguida num cartaz durante um concerto teu?
Qualquer coisa cómica e criativa que me faça rir. 

Ao Daniel Cardoso o FLAMES pergunta... 

És um artista muito versátil: escreves, tocas vários instrumentos, és actor, és produtor… Mas se alguém te perguntasse qual é a tua profissão e só pudesses escolher uma palavra para te definir, qual escolherias? 
Só não sou actor, isso é uma confusão da internet por haver um actor com o mesmo nome que eu. Na verdade - e curiosamente - é uma das minhas paixões, ser actor de cinema, mas não seria em Portugal, teria que ser em Hollywood. Num universo paralelo assim o seria, mas para já só faço o resto, que basicamente significa que tenho muito mais trabalho e ganho muito menos dinheiro. Numa palavra só diria músico, já que no fundo tudo aquilo que é neste momento a minha profissão gira apenas e só à volta disso. 

Uma das coisas que fazes é remote pre-production. Como é que isto se processa? 
É apenas uma solução para acompanhar bandas de outros países sem rebentar com os seus orçamentos. Por exemplo estive há uns anos quase 3 semanas no Chile a produzir uma banda e só em hotel, viagens e refeições para mim a banda gastou um balúrdio, ao que se somou a fee do trabalho em si e outros gastos que a banda teve ao alugar o estúdio, etc. Fazendo a produção ou pré-produção remotamente consigo fazer na mesma algum acompanhamento durante a produção mas sem implicar despesas de quatro ou cinco dígitos às bandas. Também é uma forma de poder trabalhar no conforto do lar. Abençoada internet. 

E o facto de seres músico achas que ajuda no teu trabalho enquanto produtor, ou achas que pode ter uma influência mais negativa por não te permitir ser tão objectivo?
O facto de ser músico só pode afectar positivamente o lado de produtor. Já o contrário tem invariavelmente o efeito oposto, ou seja, sendo produtor sinto uma influência negativa no meu lado de músico-compositor na medida em que me molda demasiado, me faz pensar demasiado no que devo ou não fazer, no que está ou não “correcto” e acima de tudo amputou-me a experiência de ouvinte. Sinto que perdi muito aquela pureza de ouvir música, é-me muito difícil ouvir música sem reparar em todos os pormenores técnicos. Chego ao cúmulo de gosto de, permite-me a expressão, música de merda por estar bastante bem produzida e não olho a bons olhos (ou bons ouvidos) para músicas bem compostas que tenham uma produção amadora. Para mim é o único lado negativo da minha profissão.

Qual dos instrumentos que tocas mais te entusiasma?
Bateria, sem qualquer tipo de dúvida. 

Já trabalhaste em várias partes do mundo, desde Portugal, Reino Unido, Estados Unidos… encontraste algumas diferenças culturais na forma que os artistas adotam para fazer música?
Há uns anos atrás notavam-se algumas diferenças de posturas e mentalidades no seio do meio musical, hoje em dia nem por isso, até porque está tudo muito globalizado. Não que isso seja mau.

Há algum artista com quem gostarias muito de poder vir a trabalhar?
Já trabalhei com uns quantos daqueles que em idos anos me levavam a sonhar “um dia ainda hei-de trabalhar com ele/ela”. Neste momento não sei. Num plano realista estive recentemente em tour com Alcest e não me importava nada de trabalhar com eles como produtor. Num plano mais irrealista, talvez uma Bjork. 

Uma das bandas com quem trabalhas são os Anathema, que estão agora em tour para promover o novo álbum “The Optimist”. Pessoalmente consideras-te um optimista?
Sim, bastante. Tento ter uma visão positiva das coisas, acima de tudo em termos de ambição e pro-actividade. Não aceito um “isso é muito difícil” como resposta e não gosto de “nãos”. 

Os Anathema são uma banda em constante evolução. Ao longo dos anos passaram por várias fases, musicalmente falando… Porque achas que isso aconteceu? 
Acima de tudo pela genuinidade das pessoas que decidiram o rumo da banda. Fizeram sempre aquilo que sentiram e acima de tudo que gostavam de ouvir. Nunca houve uma preocupação do tipo “temos que mudar para tornar as coisas interessantes” ou para atingir este ou aquele mercado. Do que conheço da banda e do percurso da banda sei que foram sempre honestos com aquilo que sentiram, e sentiram sempre vontade de explorar coisas novas e que acima de tudo fossem ao encontro do tipo de música que gostam de ouvir. 

O facto de trabalhares com tantos artistas diferentes, achas que influência enquanto músico?
Sim, cresce-se sempre um bocadinho a vários níveis, talvez até mais a nível humano. Há sempre algo a “roubar” de alguém e que se torna em crescimento, seja algo positivo, negativo, pessoal, musical, emocional. 

Para o futuro, o que podemos esperar do teu trabalho?
Podem esperar isso mesmo: trabalho.

Obrigada ao Daniel pela oportunidade! 


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5 comentários:

Obrigada por ter passado pelo nosso Blog e por comentar! A equipa do FLAMES agradece ;)

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