quinta-feira, 13 de abril de 2017

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Livro: A Mãe Eterna



Ano de Edição: 2017
Género: Drama
Autora: Betty Milan
Editora: Objectiva

* Por Mariana Oliveira *


A inevitabilidade da morte está presente desde cedo nas nossas vidas e acaba por ser ela que nos impulsiona a tentar desfrutar de cada momento especial que passamos neste mundo. Contudo, à medida que os anos avançam e o corpo começa a trair-nos, a consciência de que um dia teremos de nos despedir daqueles que amamos torna-se mais real e passa a fazer parte do nosso dia-a-dia.
Foi precisamente este o mote que levou Betty Milan a escrever uma série de textos inspirada na sua experiência com a mãe de 98 anos e todos os sentimentos que essa situação despertou nela.


Sinopse:
“Aos 98 anos, com a saúde debilitada, a mãe mal ouve e quase não vê. A filha, que se vê no papel mãe da própria mãe, questiona os médicos, as religiões, tudo. Para quê manter vivo alguém que já não vive? Num relato comovente, em forma de diário, a filha descreve as peripécias do dia-a-dia com a mãe. Um livro forte, uma reflexão gritante de tão actual. A Mãe Eterna apresenta-nos um dilema que mói a alma e nos faz questionar a vida, a morte e a relação mãe-filha.”


Opinião:
Bastou-me ler a sinopse para saber que iria terminar este livro com lágrimas nos olhos. Sendo uma pessoa com uma relação muito próxima da minha mãe, não demorei muito a projectar-me nas palavras de Betty Milan e a imaginar-me naquela posição.

É verdade que todos sabemos que se tivermos a sorte de ter uma vida longa e plena, em algum momento o nosso corpo acabará por começar a falhar-nos e acabaremos por ter de depender de outros para nos ajudarem nas coisas mais básicas do dia-a-dia. Não raras vezes essa tarefa acaba por ser desempenhada pelos filhos que aqui acabam por assumir o papel de pais dos seus pais, tal como a autora refere neste livro. E é aqui que começamos a perceber as implicações que isso pode ter no cuidador.
Como se sente alguém que, a partir de determinado momento, tem de ser mãe da sua própria mãe? O que pensa alguém que passa a ter de cuidar daquela que foi a sua cuidadora no passado?

Comovi-me com as dúvidas que assaltavam a autora e com a antítese que a acompanha ao longo dos seus textos: o medo de perder a mãe mas a ideia de que a vida que esta tem já não pode ser realmente chamada de vida, mas apenas de sobrevivência. Várias vezes Betty Milan questiona a legitimidade dos médicos em tentar combater a morte a todo o custo para logo de seguida perceber que não consegue imaginar a sua vida sem a mãe.
Esta luta interior da autora arrepiou-me e levou-me a pensar o que sentirei um dia se me vir exactamente na mesma situação, a ser mãe da mãe. Ainda para além disso, tentei imaginar o que sentirei um dia se me vir na situação de mãe que tem de depender dos seus filhos para continuar a viver. Este ciclo em que quem cuida um dia será cuidado, esta inversão de papéis, acontece em grande parte das famílias daí que este seja um livro actual hoje e daqui a vários anos.
Como já devem ter percebido, esta não é uma leitura fácil. A frontalidade da autora bem como a impossibilidade de olharmos para o lado e fingir que nada disto poderá um dia passar-se connosco, fizeram com que este fosse um livro duro que precisa de ser amadurecido depois de lido. 

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2 comentários:

  1. Mariana, acho que fico só com a tua resenha porque isto mexe muito comigo
    Um beijinho.

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    Respostas
    1. De facto esta não é de todo uma leitura fácil. O tema é tão delicado que entendo bem o que a Helena quer dizer...
      Beijinhos, Mariana

      Eliminar

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