segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

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Livro: Arquipélago (Joel Neto)




Ficha Técnica

Título: Arquipélago
Autor: Joel Neto
Edição/reimpressão: 2015
Páginas: 460
Editor: Marcador
ISBN: 9789897541698
Colecção: Marcador Literatura
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Sinopse

Açores, 1980. Uma criança desaparecida. Um homem que não sente os terramotos.

Quando um grande terramoto faz estremecer a ilha Terceira, o pequeno José Artur Drumonde dá-se conta de que não consegue sentir a terra tremer debaixo dos pés. Inexplicável, esse mistério há-de acompanhá-lo durante toda a vida. Mas, entretanto, é hora de participar na reconstrução da ilha, tarefa a que os passos e os ensinamentos do avô trazem sentido de missão.
Já professor universitário, carregando a bagagem de um casamento desfeito e uma carreira em risco, José Artur volta aos Açores. Durante as obras de remodelação da casa do avô, é descoberto um cadáver que o levará em busca dos segredos da família, da história oculta do arquipélago e de uma seita ritualista com ecos do mito da Atlântida. Mas é nos ódios que separam dois clãs rivais que o professor tentará descobrir tudo o que os anos, a insularidade e os destroços do grande terramoto haviam soterrado…
Usando a mestria narrativa e o apuro literário dos clássicos, bem como um dom especial para trazer à vida os lugares, as gentes e a História dos Açores, Joel Neto apresenta o romance Arquipélago, em que a ilha é também protagonista.


Opinião
(por Roberta Frontini)

Como é que uma pessoa que não sabe escrever e que tem dificuldades em exprimir o que sente poderá, alguma vez, falar sobre este livro? 
A tentativa será feita porque a minha vontade de o dar a conhecer ao mundo é gigante, mas sei que o resultado final será coxo. 

De vez em quando gosto de conhecer bons autores portugueses. Não raras vezes conseguem surpreender-me e várias vezes são as que se tornam autores para a vida. A culpada de querer ler Arquipélago foi a minha mãe que, tendo lido a obra "Os sítios sem resposta" ficou fã incondicional do trabalho do autor. Depois de várias insistências e de termos voltado a falar sobre ele no encontro com o autor Paulo Caiado (que podem ver aqui), acabei por aceder ao seu pedido e foi precisamente ela que o começou a ler antes de mim. A minha relutância em o ler prende-se apenas com o facto de eu e a minha mãe termos gostos opostos. No entanto, por vezes, é precisamente ela que me apresenta autores e obras que me acompanharão para sempre. É o caso de Richard Zimler, Carlos Ruiz Zafón ou David Liss. E agora, é o caso de Joel Neto. 

A trama passa-se em território nacional e predominantemente nos Açores. Não conheço os Açores, mas posso dizer que já lá estive, guiada por Joel Neto. De que outra forma se sente um leitor depois de ler esta obra, senão como alguém que já conhece aquelas ilhas de uma ponta à outra? Estou a ser injusta, as ilhas têm muito para oferecer, mas sem dúvida que o Arquipélago entrou para a minha lista de locais a visitar, e de certo que quando lá for irei sentir que estou a voltar a um sítio que já conheço. Adorei a forma como o autor enaltece o lugar, a fauna, a flora e a gastronomia que ele descreve e que quase nos consegue fazer sentir o paladar. Depois temos as vistas, o mar, as paisagens.. e a maneira como descreve a ilha faz-me lembrar o local onde eu nasci, também ilha e também habitado por um vulcão que volta e meia decide fazer-se sentir. E claro, o autor para nos fazer sentir mesmo no local, acaba por nos apresentar rituais, costumes, mas também expressões tão típicas que, para quem tem amigos/conhecidos açorianos como eu, consegue ouvir as personagens a falar com o típico sotaque.

E que dizer das personagens? Personagens que não são apenas criadas pela mente do escritor, mas que por vezes são inspiradas em pessoas reais e moldadas pelo autor. Personagens que se vão encontrando e desencontrando e cuja vidas, por vezes, se entrelaçam... algumas das quais encerram um verdadeiro mistério.. outras que nos vão dar muito a conhecer. E já que falei em mistério, esse foi precisamente o ponto forte do livro para mim. Mistério ou será que deveria falar em mistérios? É que, na verdade, Joel Neto não nos apresenta apenas o mistério do desaparecimento de uma criança, mas cria muitos outros, e é precisamente isso que não nos permite largar o livro.  E já que comecei a falar em personagens, gostava de vos apresentar a minha favorita: Maria Rosa. Esta é uma menina que, sempre que aparecia no livro, me fazia rir às gargalhadas. Queria-a lá o tempo inteiro. Queria um livro só com Maria Rosa. Queria uma Maria Rosa na minha vida! 

Esta obra não é um simples livro de mistério, não é um simples romance. É quase uma saga familiar que nos faz acompanhar uma personagem principal desde a infância até à vida adulta, e que no epílogo nos conta ainda mais sobre ela. E assim, no final, temos a sensação que vamos fechar um livro e perder um amigo que tanta companhia nos fez e da qual sabemos quase tudo. 

A escrita é intocável. Soberba! Vale todos os elogios que lhe têm sido tecidos ao longo destes tempos. Joel Neto e a sua escrita é bom que tenham vindo para ficar! Não resisto a vos referir algo que me aconteceu. Mais ou menos nas últimas 100 páginas senti que o autor estava a brincar comigo. Literalmente! A fazer-me imaginar possibilidades, a trilhar-me caminhos que me pareciam certos, e depois a tirar-me o chão e a deixar-me desamparada ao reformular toda a realidade das personagens... Cheguei a ter pesadelos e insónias porque não conseguia compreender o mistério por detrás de algumas personagens, e não queria parar sem os ter todos desvendados. Quando um livro mexe assim connosco, significa que estamos perante algo de extraordinário. E é por tudo isto que julgo poder afirmar que esta é uma das melhores obras escritas em língua portuguesa nos últimos anos, e Joel Neto um dos maiores e melhores romancistas lusófonos. 

A cereja no topo do bolo? Uma coisa que já nada tem a ver com o enredo: a menção, nos agradecimentos, ao fabuloso Luís Miguel Rocha, que tanta falta tem feito ao panorama cultural português!


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2 comentários:

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